O mundo é volátil, está em permanente mudança. E se é verdade que a globalização da sociedade acabou por resultar num desenvolvimento económico e social exponencial e necessário para as sociedades modernas, também é verdade que as trocas comerciais, assim como a gestão, pública e empresarial, centrada em objetivos, padronizaram estilos de vida por todo o mundo e alteraram a forma como as empresas funcionam e operam atualmente, com repercussões indeclináveis na saúde e desenvolvimento do ser humano.

A International Stress Management Association (ISMA) assinala a data da consciencialização do stresse na primeira quarta-feira de novembro, desde 1998. Os objetivos da consciencialização desta data passam por fornecer informação sobre o stresse e por promover a importância do bem-estar físico e psicológico para os indivíduos, partilhando estratégias de o combater, quer a organizações (governamentais e não governamentais) quer às pessoas em particular.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), outros organismos competentes e o Livro Verde, documento oficial da Comissão Europeia para os assuntos relacionados com a Saúde Mental, o Stresse e a Depressão são já a maior causa de morbilidade nos países desenvolvidos. Aliás, o Stresse e a Depressão já vitimam mais pessoas, atualmente, que os acidentes de viação e o HIV/SIDA.

Nos dias de hoje, são mais de 30% os europeus afetados por problemas relacionados com o stress (um número que continua sempre a aumentar) e são perdidos mais de um milhão de dias úteis de produtividade por ano. Aliás, as principais causas de baixas no trabalho são razões relacionadas com problemas de saúde mental, nomeadamente, são causa e consequência do stresse nas pessoas.

O stresse tem custos intangíveis se o associarmos aos custos com a produtividade e está, claramente, comprovado que as pessoas não estão a aguentar um estilo de vida muitas vezes demasiado competitivo, sagaz e individualista/egocêntrico.

E se o cenário era já em si inquietante e alarmante, o ano de 2020 acrescentou ainda mais um peso, este inesperado para todos – uma crise sanitária global. As consequências da pandemia Covid-19 estão a ser devastadoras e existe uma relação causal muito significativa com o aumento de situações preocupantes em matéria de saúde mental.

A OMS divulgou há dias mais um estudo que vem confirmar precisamente esta difícil realidade. A pandemia Covid-19 interrompeu ou suspendeu serviços essenciais de saúde mental em 93% dos países do mundo, numa altura em que a procura de assistência aumentou e está a aumentar.

Esta pandemia veio colocar em foco algo que há muito as evidências científicas já vinham alertando – os contextos económicos, sociais e culturais têm um impacto enorme na saúde mental das pessoas. Assim como a falta de investimento na saúde mental tem consequências muito graves nas pessoas e, de igual modo, nas próprias economias e sociedades ditas modernas.

A incerteza profissional, o desemprego, problemas acrescidos na prestação de cuidados básicos (como por exemplo, na alimentação, educação, habitação/rendas, etc.), os problemas conjugais e familiares acrescidos, o ambiente familiar tenso e pouco equilibrado, a dificuldade no acesso a muitos serviços da sociedade, a incerteza relativamente à solução para esta situação pandémica de saúde, está relacionada com o aumento e o exacerbamento de problemas de saúde mental, situações de stresse tóxico e sofrimento psicológico agudo e crónico.

Atualmente é possível comparar o impacto e a carga social em termos de custos diretos e indiretos que várias especialidades da saúde têm nas sociedades e o que constatamos é que a doença mental surge sempre ou em primeiro ou segundo lugar, com uma carga global de cerca de 10 a 15%.

Ora, apesar de reconhecer o esforço que tem sido feito nesta área por parte dos organismos competentes na área da Saúde no nosso país, não é difícil perceber que o financiamento e o investimento da Saúde que temos atualmente – cerca de 4% – na saúde mental dos portugueses é ainda claramente insuficiente e insípido para adereçar os desafios do presente e do futuro a que todos somos convocados.

Não há Saúde sem Saúde Mental. Não há Economia sem pessoas com Saúde. É necessário mais investimento e melhor acesso, para evitar uma verdadeira pandemia sanitária de natureza mental com consequências económicas devastadoras e de contornos imprevisíveis.