Nos últimos anos, o conceito do propósito emergiu como um tema crucial na gestão e liderança empresarial. Amplamente debatido em livros e artigos de gestão, este conceito reflete uma mudança significativa nos valores do ambiente corporativo. Se por um lado, os colaboradores, especialmente das gerações mais jovens, buscam um propósito que transcenda a mera segurança financeira. Por outro lado, as empresas ainda estão a tentar adaptar-se a estas novas exigências.
Isto não invalida, porém, que exista um consenso crescente entre os líderes de que as empresas não existem apenas para gerar lucros, mas para tornar o mundo um lugar melhor, mais sustentável para as gerações vindouras. Em última análise, os stakeholders exigem que as empresas façam mais do que fornecer bons produtos, serviços e lucros, elas devem também promover a melhoria da qualidade de vida de forma sustentável para todos: colaboradores, clientes, meio ambiente e sociedade.
A busca por propósito na vida está profundamente enraizada no ser humano. Podemos explorar algumas visões que abordam a natureza da existência e o papel do indivíduo na sociedade. Dois destes conceitos parecem particularmente interessantes para este tema:
Os existencialistas quando afirmam que “a existência precede a essência”, sugerem que o propósito não é predeterminado, mas sim construído através das escolhas e ações pessoais. De acordo com esta visão, cada pessoa deve criar o seu próprio sentido de vida por meio das suas decisões e comportamentos.
Viktor Frankl, fundador da Logoterapia e Análise Existencial, oferece uma visão complementar sobre o propósito no seu livro “Em Busca de Sentido”. Nele, Frankl explora como a vida adquire significado através da contribuição para o bem coletivo e da busca por um propósito maior.
Se considerarmos estas duas visões (muitas outras também poderiam ser consideradas), podemos afirmar que o propósito pode assumir-se como uma força transformadora nas empresas. Ou seja, organizações que definem e comunicam claramente o seu propósito, alinhando práticas e investindo de forma adequada, estão mais bem posicionadas para envolver os seus colaboradores e alcançar um sucesso sustentável. Integrar o propósito na estratégia e na cultura das empresas é fundamental para criar um ambiente inspirador e motivador no local de trabalho.
Quando o propósito está alinhado com a estratégia e a cultura organizacional, as empresas não apenas orientam as suas operações, mas também inspiram os seus colaboradores a contribuir para um impacto mais positivo e duradouro.
Na minha opinião, a Tesla é um excelente exemplo, pois, através da sua missão de “acelerar a transição do mundo para a energia sustentável”, cria um verdadeiro sentimento de propósito que impulsiona a inovação e a dedicação em toda a organização. Este compromisso com a redução da pegada ecológica, através da transição energética, transforma-se num propósito que ressoa profundamente com colaboradores e clientes.
O propósito não só melhora a coesão interna e a adaptação estratégica das organizações, como também desempenha um papel crucial na atração e retenção de talentos. Em mercados de trabalho altamente competitivos, as empresas que oferecem um propósito claro e alinhado com os valores dos colaboradores destacam-se como empregadores de escolha. Esta vantagem competitiva é particularmente evidente nas gerações mais jovens, que buscam oportunidades de trabalho que tenham um impacto positivo e que reflitam as suas próprias crenças.
Organizações que não consigam oferecer um sentido de propósito e a construção de um legado enfrentam dificuldades não apenas em atrair novos talentos, mas também em reter os seus melhores colaboradores, o que pode resultar em custos elevados com rotatividade e na perda de conhecimento valioso.
Além disso, o propósito contribui significativamente para a construção da reputação corporativa e para a relação com os consumidores. Num mundo onde a transparência é cada vez mais valorizada, os consumidores preferem apoiar marcas que demonstram um compromisso genuíno com causas sociais e ambientais. Este desejo crescente por responsabilidade corporativa tem levado muitas empresas a reavaliar e reformular as suas estratégias de propósito, integrando práticas que vão além do marketing e realmente influenciam as suas ações no dia a dia.
No entanto, implementar um propósito genuíno é um desafio para muitas empresas que, no passado, se focaram exclusivamente no lucro. Uma declaração de propósito vaga ou mal definida pode gerar frustração e cinismo, prejudicando a motivação e a reputação da empresa. Portanto, é essencial que as empresas não apenas definam um propósito claro, mas também integrem esse propósito em todas as suas operações e decisões, vivendo-o diariamente de forma que faça parte da sua cultura e não apenas da estratégia. Como dizia Peter Drucker, “A cultura come a estratégia ao pequeno-almoço”.
Em resumo, o propósito é um elemento crucial para o sucesso das organizações no mundo contemporâneo. Mais do que uma ferramenta de gestão, o propósito é um princípio orientador que, quando integrado de forma autêntica, tem o potencial de transformar todos os aspetos de uma empresa, desde a sua cultura interna até à sua perceção no mercado.
Empresas que reconhecem e abraçam o poder do propósito destacam-se pela sua capacidade de inovar e inspirar, criando conexões significativas com colaboradores, clientes e a comunidade. Ao alinhar a sua cultura e estratégia com um propósito claro e motivador, estas organizações estão mais bem preparadas para enfrentar os desafios do mundo moderno, assegurando não apenas a sua sobrevivência, mas também o seu crescimento sustentável no longo prazo.