O papel das agências de rating, muitas vezes, não é compreendido. Mas, na verdade, desempenham um papel fundamental na formação dos juros a pagar na dívida pública de qualquer país. Estas agências dão nota à capacidade de cumprimento das obrigações de um país, segundo o desempenho económico e financeiro do país em causa.
O comportamento da economia portuguesa tem surpreendido pela positiva até as agências de rating. Depois da DBRS Morningstar colocar o rating da dívida pública portuguesa em A, a Fitch elevou também para A. Isto possibilita que os portugueses possam esperar pagar menos juros do que aqueles que deveriam pagar. São boas notícias, mas que não são fruto do acaso.
Quando a despesa é superior à receita (défice) os recursos despendidos só podem ser cobertos pela emissão de dívida. Portanto, quando mais défice, mais dívida e quanto mais dívida mais recursos futuros estamos a hipotecar agora. No fundo, quando estamos a contrair dívida estamos a dizer que no futuro alguém pagará o nível de vida que temos hoje. Contrair défices constantes não é de esquerda ou direita, é uma opção de gastar agora recursos futuros que serão pagos acrescidos de juros.
No ano 2024, Portugal prevê pagar 7151,2 milhões de euros em juros da dívida. Isto equivale quase ao gasto efetuado no Orçamento do Ministério da Educação e a mais de metade do gasto no Orçamento do Ministério da Saúde. Os juros pagos dependem de dois fatores: montante nominal da dívida e a taxa de juro paga.
A taxa de juro paga, para além da política monetária que não podemos controlar, depende da nota dada pelas agências de rating e onde o nível de dívida em relação ao PIB é determinante na sua atribuição. Por outro lado, o montante depende dos défices que possamos ter que requerem mais emissão de dívida. Por isso, é fundamental não ter défices para não emitir dívida e reduzir o peso da dívida no PIB nominal. Por isso, o governo tem estado muito bem.
Este Governo tem garantido uma política de esquerda, onde a distribuição de rendimentos e combate à desigualdade social é a base de tudo, mas nunca descurando as contas certas, que possibilitam Portugal ter a sua independência financeira, sem depender do financiamento e onerar e condicionar o futuro das populações.
Não podemos esquecer que a dívida que hoje pagamos foi contraída no passado por causa de défices passados. Se queremos ter um futuro mais risonho, mais próspero para os nossos filhos e netos, é preciso livrá-los do fardo da dívida o mais depressa possível. E uma política de esquerda deve também seguir esses princípios.