O renascer após a morte anunciada. O cheiro e a imperfeição do papel, numa época pautada pela perfeição tecnológica. Assim se pode resumir esta nova era de ouro das publicações independentes. Após o medo, o progresso; depois da desilusão, a coragem de quem encontrou, neste meio, matéria-prima para a inspiração.
Há uma década atrás, a questão que assombrava o mundo editorial prendia-se com a ameaça do digital – uma presença cada vez mais óbvia e incontornável para a maioria das redações. E foram muitos os jornais e revistas que trocaram o ritual da impressão, pelo brilho futurista dos ecrãs. Uma mudança de rumo que – mais do que um falso prenúncio de morte – criou novas oportunidades para partilhar um tipo de informação que se queria imediata e universal.
Hoje sabemos que o sentimento de ameaça que fechou tantos jornais, nos últimos anos, abriu também caminho para um novo universo de publicações independentes que viram na Internet um aliado. Através dela, pequenos editores e designers encontraram um nicho capaz de validar e apoiar revistas com pequenas tiragens. Quem diria que a afamada morte do papel iria trazer com ela um crescente de revistas de qualidade superior, sem publicidade e com tiragens de pouco mais de quinhentas cópias?
Todas as indústrias são feitas de altos e baixos, épocas de ouro que contrabalançam com períodos de crise. E é nesse equilíbrio quase trapezista que os mais audazes desbravam caminho. Quando somos convencidos de que o papel é algo de ontem, como uma memória de outros tempos, eis que a criatividade e a inovação nos provam que os meios são aquilo que fazemos deles. E se a Internet nos proporciona a quantidade de informação e rapidez de que os tempos modernos precisam, deixemos que o impresso seja o seu oposto – uma ode à qualidade e inspiração.
Entre o passado e o futuro, eu acredito num presente feito de compromissos entre os vários meios. Cada um com as suas potencialidades, cada qual com a sua versão de utopia. A comunicação é mesmo isso, a capacidade que temos de informar, contar histórias e inspirar através de vários formatos, meios e linguagens. Porque se o meio é a mensagem, o utilizador é, certamente, quem dá vida ao conteúdo. E aí, é hora de dar vivas à versatilidade e perseverança do papel, à abrangência e criatividade da Internet e a tudo o que conseguimos criar entre eles.
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