Depois de ter começado confinado, 2021 deverá terminar dando perspectivas mais animadoras para 2022. O último trimestre do ano iniciou-se com o “dia da libertação”, nova fase do desconfinamento que, embora não tivesse correspondido à total eliminação das medidas de combate à Covid-19, representou uma certa ideia de regresso aos tempos pré-pandemia.
Com 85% da população portuguesa vacinada e após ano e meio de convivência com o SARS-CoV-2, a sensação é a de que o pior já passou. Isso mesmo está reflectido nos vários índices de confiança, que, em setembro, já haviam recuperado face a 2019.
No seu Boletim Económico de Outubro, o Banco de Portugal prevê que o crescimento anual da economia portuguesa seja, em 2021, de 4,8%, estando, pois, mais optimista que a Comissão Europeia e que a OCDE, que apontavam, respectivamente, para crescimentos anuais de 3,9% (Previsões de Verão) e 3,7% (Perspetivas Económicas de Maio). É, portanto, possível que vejamos a actividade económica chegar aos níveis pré-pandemia já em 2022.
Mas não para o sector do turismo, onde a recuperação tem sido mais lenta, principalmente na sua componente internacional. Como se sabe, a actividade turística é marcada por uma forte sazonalidade. Olhando para os dados relativos ao período 2013-2019, constata-se que o quarto trimestre representa menos de 20% das dormidas e dos proveitos anuais, pelo que não é expectável que sejam estes últimos três meses a “salvar” o ano. Observando o comportamento destes dois indicadores em 2021, verifica-se uma melhoria face a 2020, ano que havia sido desastroso, mas ainda bastante longe do excelente desempenho de 2019. Provavelmente, este só será recuperado em 2023, com impacto nas exportações do país.
O quarto trimestre iniciou-se, igualmente, com o fim das moratórias. Em Agosto, eram mais de 236 mil os particulares nesta situação, com um montante de cerca de 14 mil milhões de euros, a que se somam 21,5 mil milhões por parte de 50 mil sociedades não financeiras. O regresso aos pagamentos dos empréstimos não se adivinha dramático, mas naturalmente irá encontrar algumas dificuldades que poderão conduzir a insolvências. Principalmente, se as taxas de juro começarem a subir, cenário que entra em consideração, na medida em que a inflação está a aumentar.
Esta parece ser, contudo, o resultado maioritariamente do aumento dos preços da energia, que é um outro aspecto a marcar este final de ano. Ao qual se somam alguns problemas nas cadeias de abastecimento (custos de transporte elevados, prazos de entrega mais longos e escassez de matérias-primas e de bens intermédios), que têm tido implicações na produção de vários sectores e que não deverão desaparecer nos próximos tempos.
Em suma: embora não isentas de riscos e de ameaças (como nunca são), as perspectivas para a economia portuguesa no quarto trimestre de 2021 deixam-nos antever um inverno que não será de conjuntural descontentamento.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.