Caracterize-se uma classe profissional/sector de actividade, através de alguns exemplos escolhidos a dedo. Os piores. Com aspectos chocantes. E depois generalizem-se de forma abusiva, e preconceituosa, transformando-os na identificação da classe/sector e obtém-se: “O taxismo-leninismo que durante anos nos obrigou a viajar em veículos sujos, com música pimba aos berros entrecortada com discursos xenófobos ou quase fascistas (…)”.
Inflacione-se a afirmação excessiva, violenta, de um dirigente associativo… numa bolha de propaganda sobre as ameaças e malfeitorias de que é capaz tal classe. Até foram capazes da “(…) projecção de dejectos de animais para concorrentes indesejáveis (…)”.
Acrescente-se que essa actividade se realiza em Portugal e, logo, diferentemente, por idiossincrasia própria deste povo atrasado, tudo ser admissível. “Fosse o país um pouco mais exigente e houvesse um Governo mais empenhado na defesa de um limiar mínimo de moralidade pública (…) e o referido dirigente estaria a ferros! Na “Europa civilizada” de que falava Zeca Afonso não era possível. Aqui ao lado, em Espanha e França, não era possível, como bem sabemos.
Tenha-se como concepção de Estado de direito um Estado com dois direitos. O direito da ordem jurídica e exercício da “violência do Estado”, que tudo autoriza ao capital transnacional (nada de afugentar o investimento estrangeiro), permitindo-lhe a total e brutal violação da lei desde Junho de 2014 – há mais de dois anos! Ninguém deste Estado enxergou uma situação três vezes ilegal: ilegal a entidade promotora e contratadora, ilegal a viatura usada, ilegal a actividade do condutor.
Em contraponto, o direito da mão pesada da lei e da ordem sempre que o indígena põe o pé de fora, por exemplo, se for o sexto carro numa praça de táxis de cinco! Aliás, admitiu-se aquela actividade ilegal e justificou-se a passividade do Estado, na presunção de que em nome da inevitabilidade destas novidades “platafórmicas” e etc., o Estado vai um dia “legalizá-la”. E como vai ser legalizada, logo, pode exercê-la. E isto não faz comichão nem nada…
Baptize-se a reacção natural, obrigatória dos prejudicados – a de que vão continuar a luta – com um nome/adjectivo “forte”, daqueles que não deixam dúvidas a ninguém de que estamos perante uma tentativa de subversão da ordem cristã e ocidental: «guia de marcha para a ala radical do “taxismo-leninismo”»! Falar do papão do “leninismo” é certamente para “a criação de um clima de intimidação tal que leve o cidadão comum a ter medo de entrar (…)”… num táxi!
Ponha-se à disposição um jornal dito de referência e temos mais uma peça (porque outras houve) do “jornalismo-uberismo”. Embora, perante as enormidades ditas e escritas sobre o assunto, não se esteja longe de um “jornalismo-fascismo”.
Nota: as citações em itálico são de Manuel Carvalho, “A impunidade do “taxismo-leninismo”, Público de 2 de Outubro de 2016.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.