A investigação sobre a forma talvez incestuosa, criminosa ou então apenas voluntariosa à volta dos negócios de Manuel Serrão exacerbou o que já se instalará há muito na cultura administrativa pública portuguesa: o pavor de tomar decisões, adiar sempre, fechar os olhos e reabri-los anos e anos depois quando a procissão já passou do adro há muito. O que isto significa é a conversão dos fundos europeus num diabólico
labirinto em que nem o Minotauro de Creta conseguiria encontrar a saída. As empresas e associações portuguesas vivem hoje este tormento. Mesmo quando os fundos já foram aprovados e pagos, anos e anos depois, o assunto volta atrás com pretextos delirantes e vexantes para o
Estado português. Uma grande empresa tem estofo para aguentar o embate financeiro, uma PME ou uma associação ficam sem chão.
Na base disto esta proverbial desconfiança latina, a que se junta sensacionalismo jornalístico, voyeurismo nacional e alguma pontual precipitação judicial. Pressionados por todos os lados, os funcionários públicos a quem compete aprovar candidaturas, libertar o dinheiro e fechar os dossiês ficam numa posição te tal forma vulnerável que preferem não decidir nada em tempo útil ou fazer marcha atrás à 25a hora.
Salvar a pele é a força maior que os orienta em cada decisão. O interesse público, a economia e o investimento dos empresários são elementos e personagens secundários . Os documentos exigidos fora de tempo e a interpretação extensiva e até criativa de quem gere o Portugal 2030 ou o PRR fazem das regras europeias são de chorar. Se em tempos fomos além da troika, agora vamos muito além, Vivemos no reino da
desconfiança abusiva.