Há uns dias escrevi que o SNS deveria ser um Sistema Nacional de Saúde, envolvendo protagonistas públicos e privados, e não um Serviço Nacional de Saúde (SNS) focado em ser usar apenas as entidades públicas. Portanto, sem fundamentalismos políticos.

Numa passagem escrevi exatamente assim: “O sistema privado de saúde não é nenhum inimigo do SNS. Desde há largos anos que vivenciamos essa relação público-privado porque o público não faz tudo e a pessoa é direcionada para o privado, como no diagnóstico por análises clínicas, imagiologia, cardiologia, por exemplo, ou no caso de tratamentos como fisioterapia. Então, se assim tem sido, porque não pensar global e ir mais além?”

É isto mesmo, através de credenciais próprias, como por exemplo o vulgarmente conhecido P1, podemos fazer um determinado exame ou tratamento numa Unidade Privada (UP) convencionada com o Estado. Há décadas que assim é.
Estas UP, cada vez mais, nomeadamente hospitais, têm também acordos com Seguradoras de Saúde (SS) e o seu negócio vive essencialmente disso. Esse é o seu verdadeiro segmento comercial e o SNS é, na mesma, um belíssimo acordo comercial porque, acima de tudo, atrai pessoas.

Há, porém, um dado muito importante e sério em todo este panorama – o preço. O preço dos exames e tratamentos que o SNS e as SS pagam às UP pelos exames pois, é deste preço que as entidades pagam aos profissionais de saúde. Ora, 50% de 30€ não é o mesmo que 50% de 75%.

Posto isto, explanada a questão dos acordos comerciais com as UP, partilho um diálogo que tive há dias num Hospital do Norte.

Eu: Bom dia, vinha fazer uma Ecografia Abdominal pelo SNS e tenho comigo a credencial.

Rececionista: Bom dia. Pelo SNS já não temos agenda para este ano.

Eu: Já! Não! Já não têm disponibilidade este ano? Como é possível?

Rececionista: É a agenda. Não sei. Não há disponibilidade para este ano, mas se quiser fazer como Particular, ou pelo Seguro, dá. O senhor tem Seguro?
Eu: Desculpe, não entendi. Não tem médico para fazer pelo SNS mas tem médico para fazer como Particular ou pelo Seguro?

Rececionista: É isso, sim, quer marcar?

E pronto!

É só tirar as conclusões que, obviamente, não são bonitas nem simples, mas, acima de tudo, este episodiozito mostra o quanto o Sistema Nacional de Saúde se tem vindo a arrastar de ética e miséria materialista.