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O legado nas mãos de Paulo e o futuro da Sonae

A gestão profissional e o instinto para os negócios são traços que Paulo Azevedo herdou do pai na liderança do grupo. Cláudia é CEO da Sonae Capital. Esta sucessão foi uma das mais bem preparadas em Portugal.
  • Foto cedida
30 Novembro 2017, 05h45

Numa cerimónia na Maia, com 300 pessoas entre colaboradores, amigos, convidados e família para assinalar os 50 anos de Belmiro de Azevedo na Sonae, onde entrou em 1965, o empresário anunciou que iria deixar os cargos de direcção no grupo Sonae: Paulo Azevedo, iria substitui-lo em todos. Depois, “saiu do palanque”, “abraçou” os altos quadros da empresa e o filho. Os outros dois filhos, Nuno e Cláudia (presidente executiva da Sonae Capital), estavam na plateia.

A retirada de Belmiro, em novo processo de passagem de testemunho dentro da Sonae (Paulo já tinha sido oficialmente nomeado novo CEO da empresa em 2007) estava a ser preparada há meses e só era conhecida dentro de um núcleo muito restrito de pessoas. O empresário propôs que o filho Paulo Azevedo assumisse o cargo de “chairman” em todas as empresas e que partilhasse a presidência executiva da Sonae com Ângelo Paupério.
Sobre o modelo de gestão partilhada, Paulo e Ângelo mostraram-se confortáveis com a nova situação. Trabalham juntos há mais de 25 anos e já se sucederam um ao outro em várias posições na empresa. “A probabilidade de haver problemas de conflito é zero”, garantiram na altura ao mercado.

A gestão profissional e o instinto para os negócios são traços que Paulo Azevedo herdou do pai. Filho do meio de Belmiro, o executivo passou pela Sonae Indústria (berço do grupo) e pela Sonae Distribuição. Mais tarde, regressou com a responsabilidade do planeamento e controlo de gestão. Em 2000, passou a presidente da Sonaecom e vice-presidente da Sonae SGPS. A Sonae é hoje uma multinacional que gere um portefólio diversificado de negócios nas áreas de retalho, serviços financeiros, tecnologia, centros comerciais e telecomunicações. Outra das apostas do grupo de Paulo Azevedo e Ângelo Paupério tem sido a internacionalização. A Sonae está presente em mais de 80 países e nos primeiros seis meses do ano criou mais de dois mil postos de trabalho, devido ao crescimento das várias áreas de negócio que expandiram a atividade, quer em Portugal, quer a nível internacional, em particular na área de Health& Wellness da Sonae MC.

O sector das telecomunicações é aquele onde a estratégia de Paulo Azevedo se revelou mais acertada. A Sonae perdeu a OPA pelo controlo da Portugal Telecom (PT), em 2006, mas a operação constituiu um tiro de partida para as mudanças que Belmiro e Paulo queriam obter no mercado das telecomunicações. Para começar, conseguiram que a PT fizesse a autonomização da sua subsidiária de televisão por subscrição (a PT Multimédia, dona da TV Cabo); como forma de compensar os accionistas por terem recusado a OPA da Sonaecom, a PT distribuiu pelos seus accionistas as acções que detinha na PT Multimédia (PTM).

Foi o primeiro passo para o fim da posição dominante que o grupo PT tinha nas ‘telecoms’. A PTM passou a chamar-se ZON e, embora os seus accionistas fossem os mesmos que controlavam a PT (Grupo Espírito Santo, Ongoing, Caixa Geral de Depósitos, Joaquim Oliveira e Visabeira, entre outros), passara a ser uma empresa autónoma e distinta da antiga casa-mãe. Em 2009, a empresária angolana Isabel dos Santos comprou a participação da Caixa Geral de Depósitos. E com o enfraquecimento do Grupo Espírito Santo (que fora o principal obstáculo à OPA da Sonaecom sobre a PT, em 2006), Paulo Azevedo ficou com o caminho aberto para tentar uma aproximação à ZON.
Os astros alinharam-se e, em 2013, foi anunciado um acordo entre Isabel dos Santos e a Sonaecom, que abria caminho à fusão entre a ZON e a Sonaecom. A aquisição do Carrefour Portugal, o lançamento da nova identidade corporativa, a emissão das “Obrigações Continente”, e a fusão entre ZON e a Optimus são outros dos marcos do mandato de Paulo.

A Sonae considera que a parceria com Isabel dos Santos na NOS é “exemplar” e para manter. “É uma parceria irrepreensível. (A Zopt) sempre foi uma parceria irrepreensível. Os parceiros sempre estiveram muito alinhados”, disse este mês o Chief Corporate Center Officer (CCCO) do conglomerado português, Luís Reis, à agência Reuters.
A Sonae partilha o controlo da operadora de telecomunicações NOS através do veículo Zopt, dividido 50/50 com a empresária angolana. Para Luís Reis, trata-se de um acordo que “tem sido exemplar do ponto de vista do alinhamento estratégico entre os parceiros e portanto não vemos qualquer para que isso se altere”.

Há dois anos, Isabel dos Santos e a Sonae rasgaram uma parceria de quatro anos para o retalho alimentar em Angola, com a Sonae a vender a sua posição numa joint venture naquele mercado à empresária, que por sua vez lançou a rede de supermercados Candando.

Na entrevista Luís Reis indicou também que o seu conglomerado quer reforçar a presença no retalho alimentar em Moçambique e está a sondar investimentos noutros países africanos. “Estamos a olhar para esse cenário [de expansão alimentar]. Temos uma parceria com a Satya. Já temos operação em Moçambique e continuamos atentos a outras operações no mercado Africano de retalho alimentar”, disse.

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