Após mais de uma década sem rentabilidade e retorno para os acionistas, os bancos têm, finalmente, apresentado lucros recorde. Foram mais de 1,3 mil milhões de euros apenas no primeiro trimestre de 2024, com grande parte do resultado a provir da margem financeira, ou seja, a diferença entre o que o banco paga para se financiar, maioritariamente aos depositantes, e o juro a que empresta dinheiro.

É, pois, altura de começarmos a ouvir a expressão “lucros excessivos” e taxar!

Ora, cerca de 80 mil milhões de euros dos portugueses estão em depósitos à ordem, a renderem zero ou próximo disso. Significa, se considerarmos apenas este montante e aplicando-lhe uma margem de 3%, que os bancos estão a ganhar 2,4 mil milhões por ano sem fazerem nada. Mas se estes lucros são “excessivos”, isso deve-se à iliteracia dos depositantes, sendo apenas o resultado de uma inação excessiva, constante e cultivada ao longo do tempo.

Por outro lado, é hora de apelos para que os bancos subam os juros. Mas qual é a empresa que reduz a sua margem, quando a procura por depósitos continua forte? Principalmente de depósitos à ordem?

A resposta para ambas as questões está nos anos de inação quanto à literacia financeira dos portugueses. Urge ensiná-los a investir um pouco do seu tempo para realizarem um planeamento financeiro onde sejam consideradas as diversas opções de investimento para as suas poupanças.

Agora que a inflação se fez sentir e que, finalmente, as pessoas entenderam o que significa: comprar menos bens e serviços com o mesmo dinheiro, Portugal e a Europa correm atrás do prejuízo, com anúncios que visam priorizar a educação financeira dos seus cidadãos. Mais vale tarde do que nunca, mas será bom explicar que esta é uma corrida de longo prazo, para não haver desistências a meio, por cansaço ou lentidão na mudança de mentalidades.

Num mundo onde a desvalorização do dinheiro é real, constante e quase diária, quem deixar os seus montantes à ordem por aplicar está, por um lado a contribuir para o lucro das instituições bancárias, e por outro a perder poder de compra.

A desvalorização do dinheiro está patente na subida de preços das matérias-primas, mercado imobiliário, ações, criptomoedas, e até o ouro. O ouro então ainda é mais curioso. Depois de quase três anos estável, subiu mais de 20% desde o início de 2024, naquele que é um sinal claro de que o dinheiro ou é investido ou perde valor.

E apesar dos bancos centrais europeu e americano estarem a retirar dinheiro do mercado, os défices de ambos os blocos económicos irão continuar a ditar a necessidade dos Estados imprimirem dinheiro, e a perda de valor relativa das moedas quando comparadas com os restantes ativos. Daí que a desigualdade na sociedade esteja a aumentar. Ou os investidores têm ativos ou irão continuar a ver o seu dinheiro a desaparecer. A escolha é sua!