Portugal, o país do mar e marinheiros e o maior consumidor de peixe na Europa, corre o risco de ser o maior afectado pelo problema dos microplásticos numa clara ameaça à saúde e à economia. Um assunto fulcral que não é discutido com a atenção devida.
Os microplásticos, plásticos com menos de 5 milímetros, provém da deteriorização de peças maiores por erosão pela via do sol e do mar e das microesferas que surgiram inicialmente na indústria de cosmética e higiene em substituição de vários componentes naturais. Actualmente, uma variada gama de produtos utiliza os microplásticos – das pasta de dentes, a tintas e roupas sintéticas.
Infelizmente, a maioria das instalações de tratamento de águas residuais não possui filtros eficazes para remover os microplásticos da água tratada, devido ao seu tamanho, acabando por entrarem no circuito da água.
Estes microplásticos são ingeridos pelos peixes juntamente com o plâncton, a base da sua alimentação. Ao contrário dos plásticos maiores, que podem sufocar ou entupir o sistema digestivo, os microplásticos são absorvidos pelo organismo e acumulados nos órgãos e músculos. No seguimento da cadeia alimentar, esses animais acabam por servir de alimento a outros animais, perpetuando a viagem dos microplásticos.
Porque os plásticos funcionam como esponjas, conseguem absorver um elevado volume de contaminantes da água onde estão, ou seja, regressam mais perigosos do que quando vão para o lixo.
Portugal, com um consumo de 56,8 quilos de peixe, é o maior consumidor por habitante na EU e o terceiro a nível mundial. O destino final dos peixes contaminados com microplásticos é o nosso prato. Estas partículas constituem um problema acrescido por os plásticos funcionarem como esponjas, têm a capacidade de absorver e reter um elevado volume de contaminantes poluentes da água onde estão. Ou seja, regressam mais perigosos do que quando vão para o lixo.
Não são só os peixes a padecerem deste problema, a contaminação por microplásticos já chegou ao sal, à água engarrafada e de torneira, marisco, mel e até à cerveja.
A Suécia, que lidera o movimento europeu de erradicação dos microplásticos, anunciou no Verão passado a proibição de venda de produtos com microesferas. Seguiu-se o Reino Unido em Janeiro, a proibição de microplásticos em cosméticos e outros produtos foi aprovada. Não é permitido às empresas inglesas fabricarem produtos e a venda será proibida ainda este ano.
É urgente serem estabelecidas leis no nosso país a proibir a produção e venda de produtos com microplásticos, um problema invisível mas de graves consequências. Esta questão deveria ultrapassar o confronto ideológico e reunir o consenso de todos os partidos. A saúde e a economia são duas áreas prioritárias e o país não sobrevive sem o oceano Atlântico.