Quem ainda não perdeu uns minutos do seu tempo a olhar para os tesourinhos destas eleições autárquicas faça-o assim que possível, porque vai ter um momento bastante enriquecedor e esclarecedor do que é o Portugal profundo e o marketing político de cada partido, que na realidade não existe. A página de Facebook “Tesourinhos das Autárquicas 2017” faz uma compilação dos cartazes de campanha mais inusitados, com comentários que vale a pena ler.
Desde hinos da mais popular música latina do momento a mudanças partidárias, que em certos casos correm quase todos os partidos, sempre com a mesma fotografia, de erros de gramática a assinaturas de campanha do mais imaginativo que há… as autárquicas mostram bem a falta de marketing político em Portugal, que nestas eleições, por regra, se traduzem em alguma incoerência partidária.
O CDS, partido conservador, cristão, consegue ganhar em muitos cartazes pela irreverência nas palavras, nas fotos e, também, no photoshop. O que não deixa de ser curioso. Salomé Castanheira, candidata à união das freguesias de Águeda e Borralha está no top 10 das mais originais. Conseguiu que quase todos os fregueses dessem pelo seu nome, ao usar na campanha a assinatura “o meu nome é X mas podem chamar-me Salomé”. Mas António Martins, candidato à Câmara Municipal de Águeda não lhe fica atrás, com uma “garantia de 4 anos” contra quaisquer avarias ou danos.
Todos os partidos são dignos de uma análise e basta um breve olhar para perceber a dimensão da cidade ou freguesia a que determinada campanha se refere. Isso não significa que sejam extraordinários. Veja-se o cartaz com gráficos de pernas para o ar de Assunção Cristas, candidata pelo CDS a Lisboa ou de Manuel Pizzaro, candidato do PS à Câmara Municipal do Porto, que promete “fazer pelos dois”. São no mínimo dois cartazes polémicos em campanhas com mais orçamento. Até porque Lisboa e Porto são a verdadeira diferença nestas campanhas, onde se nota uma diferença de budget significativa. O problema maior é mesmo a falta de coerência partidária visível pelo país fora.
À parte da graça que tudo isto não deixa de ter, o meu gosto por ver estes cartazes, músicas e afins vai pelo interesse em algo que continuamos a não trabalhar bem em Portugal, o marketing político. Porque o fazemos escondido, por vezes sem as pessoas certas e conhecedoras do tema e o pouco se já se fez foi sempre criticado. Polémicas à parte, Sócrates foi um caso único nesta matéria.
Fazer marketing em política não tem nada de errado, nem de polémico, pelo contrário. Estou certa que os portugueses agradeceriam o polimento de alguns políticos, mesmo que fosse só pelo interesse partidário.
Talvez fosse interessante para muitos grandes nomes da política nacional ver estas campanhas, muitas delas produzidas em casa. É que por vezes, mesmo caindo em graça, são bem mais interessantes do que a maioria, e talvez devêssemos pelo menos pesar nisso. É que a política pode ser séria, mas não precisa de ser uma seca.