Os bancários são actualmente confrontados com diversos processos de redução de postos de trabalho. Estes processos estão a ser implementados de forma massiva e sem precedentes, encontrando-se o direito constitucionalmente consagrado da segurança no emprego sob um ataque tão intenso, quanto impensável.

À luz deste contexto, algumas instituições financeiras têm implementado “processos de reestruturação”, a coberto dos quais têm vindo a confrontar milhares de bancários com propostas de rescisão por mútuo acordo (RMA) ou reformas antecipadas, com especial enfoque para as RMA.

Em conjugação com esta situação, tem vindo igualmente a vulgarizar-se a comunicação antecipada da implementação de medidas unilaterais, vulgo despedimentos colectivos, com prazo certo anunciado, ao arrepio do que a legislação laboral prevê, criando, ou visando criar, o pânico e o temor generalizado nos bancários, de forma que desistam de lutar pelos seus direitos.

A situação é de tal forma preocupante e grave que, num movimento sem precedente histórico, os sindicatos do sector, todos eles, num gesto de unidade sem igual, decidiram mostrar a sua indignação e manifestar a sua firme oposição quanto ao injustificado e desnecessário processo massivo de destruição de postos de trabalho.

Este massacre é tanto mais extraordinário se se tiver em conta que estamos a falar de um sector decisivo para o apoio aos portugueses, às empresas e à economia nacional, conforme foi, aliás, demonstrado pelos bancários, quando a pandemia se encontrava na fase mais perigosa e exigente.

Compreende-se, portanto, por tudo o que acima se referiu, e muito mais haveria para dizer, nomeadamente sobre os bons indicadores de desempenho da generalidade das instituições de crédito a operar em Portugal, que os bancários sintam uma enorme revolta. Revolta que os levará na próxima semana a manifestar-se em frente ao Parlamento.

Para se perceber a dimensão do que estamos a falar, importa salientar que nunca os bancários adoptaram tal forma de protesto em Portugal desde a transição para a democracia.

E compreende-se também os pedidos de audiência que foram solicitados ao primeiro-ministro, bem como ao presidente da Assembleia da República, pelos sindicatos bancários.

Acresce que é chocante que instituições financeiras que recorrem regularmente a outsourcing, ou a trabalho temporário, estejam a despedir parte da sua força de trabalho, sem requalificar ou reconverter os trabalhadores de que dispõem nos seus quadros.

Muito se fala da ascensão do populismo e no desencanto dos portugueses perante o regime democrático. Não é preciso ir mais longe para perceber as raízes desse descontentamento. Como é possível esta brutalidade que está a acontecer no sector bancário? Como é possível que à gestão de vista curta de algumas instituições financeiras, o poder político não ponha um travão?

Em nome da maximização do lucro, vale tudo?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.