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“O melhor candidato é aquele que o nosso cliente contrata”

Nesta entrevista ao JE, João Maciel diz que o advogado é um “problem solver” e aconselha a ter uma visão realista da profissão. Na hora de recrutar, acrescenta, as sociedades privilegiam a Universidade, a média do curso e as línguas estrangeiras.
20 Setembro 2020, 20h00

A Michael Page está presente em Portugal há 20 anos, tendo criado a área de Legal em 2008. A empresa de recrutamento especializado trabalha com as principais firmas de advogados, sendo responsável pelo recrutamento de centenas de profissionais. Os últimos três anos foram extremamente dinâmicos a esse nível.

 

Na hora de recrutar, o que procuram os escritórios de advogados?
Em geral, o mercado da advocacia, no que ao recrutamento diz respeito, ainda se pode considerar algo tradicional, sendo muito valorizada a universidade onde o candidato estudou, a média final do curso, a capacidade de trabalhar em inglês e outros idiomas, não descurando as soft skills e de se valorizarem perfis com “mundo”.

 

Quais são as competências que mais valorizam?
Cada vez mais, um advogado é considerado um parceiro de negócio dos seus clientes, pelo que é importante que quem inicia agora uma carreira no mundo da advocacia tenha essa visão simplista e realista da profissão. O advogado da era atual tem que ser um “problem solver”, capaz de dar respostas claras e diretas às questões levantadas pelos seus clientes. É cada vez mais importante que o advogado entenda o negócio dos seus clientes, se coloque nessa posição e o cliente o considere “one of us”, um verdadeiro consultor de negócios com uma perspectiva legal dos mesmos.

 

Por outras palavras?
Significa que, mais uma vez, candidatos com “mundo”, com boa capacidade relacional e de comunicação, com instinto comercial e que conseguem transformar uma relação profissional numa relação híbrida profissional-pessoal têm vantagem sobre os perfis mais tradicionais, considerados por vezes demasiado académicos, formais, com maior dificuldade em estabelecer relações e criar empatia com os demais interlocutores, sejam eles clientes, colegas, contrapartes ou outros.

 

No competitivo mercado de emprego da advocacia de negócios, quem leva vantagem, o melhor candidato ou o que tem mais potencial para dar à organização?
No nosso entendimento, o melhor candidato ou o que tem mais potencial para dar à organização são conceitos que muitas vezes se cruzam. Nas centenas de recrutamentos realizados pela Michael Page nas mais diversas sociedades de advogados ao longo dos últimos anos, consideramos o melhor candidato aquele que o nosso cliente contrata. Isso é o mais importante, que ambas as partes se sintam confortáveis e entusiasmadas em iniciar uma colaboração.

 

É possível traçar um perfil?
Traçar o perfil do advogado a recrutar não é um processo fácil, depende de diversos fatores, designadamente: o contexto da sociedade, do departamento, do sócio que pretende contratar, dos perfis dos restantes advogados que já compõem a equipa, do nível de autonomia que pretendemos dar à pessoa que vier ser a contratada, da disponibilidade que existe para formar, da capacidade financeira que temos para atrair os melhores perfis, entre outros. Por outro lado, o melhor candidato hoje, pode, daqui a cinco anos, não ser um advogado tão forte como um advogado com muito potencial ao dia de hoje, mas, lá está, se pretendemos contratar um perfil “chave na mão” e não temos tempo para formar uma pessoa no momento em que a pretendemos contratar, teremos que seguir esse caminho.

Uma coisa é certa, o melhor candidato hoje jamais poderá acomodar-se, pois corre sérios riscos de, a médio prazo, ser ultrapassado por aquele que à data tinha “apenas” mais potencial. Trata-se de um mercado altamente concorrencial, é necessário que quem inicie agora o seu percurso profissional tenha noção disso.

 

De que forma a necessidade de inovar a que estão sujeitas as sociedades de advogados é decisiva nas escolhas de recrutamento que fazem?
Acima de tudo, deverá existir um total alinhamento do perfil a contratar com a visão que a sociedade tem em termos de inovação, quer esta se reflicta em matérias de sustentabilidade, responsabilidade social, exposição internacional, uso de robótica, ou outros. Uma sociedade de advogados, como qualquer empresa, constrói a sua identidade com base nas suas pessoas, e deve, por isso, recrutar profissionais que se revejam na missão, nos princípios e valores defendidos, no modelo de gestão e na constante procura das melhores práticas em termos de inovação.

 

Atualmente, o que tem mais peso nas intenções de contratação, a experiência ou a juventude?
Depende muitíssimo do contexto de cada recrutamento. Se existir disponibilidade para formar, caso se pretenda que esse advogado não traga vícios de outras experiências profissionais e não exista espaço no departamento para integrar um perfil mais experiente, e que consequentemente requer um maior investimento em termos financeiros, a escolha recairá sobre a “juventude”. Cada vez mais, vemos uma maior preocupação das sociedades em enquadrar o perfil a contratar com as equipas já existentes, o perfil comportamental que melhor encaixará com os restantes colegas. Estamos a criar equipas que trabalharão lado a lado durante muitas horas, é importante, logo no momento inicial do recrutamento, traçar o perfil comportamental a recrutar, por vezes bem mais do que definir a experiência exigida e o enquadramento salarial.

 

Quais as expetativas de evolução futura do mercado de Legal?
Após três anos extremamente dinâmicos a nível de recrutamento, 2020 será um ano atípico. Apesar de um início de ano em linha com os anteriores, o setor da advocacia, como todos os outros, abrandou em termos de novas contratações, havendo uma clara postura de “wait and see” para ver como a economia responde e a própria capacidade financeira dos clientes para liquidar os honorários dos serviços prestados no primeiro semestre do ano. Por outro lado, prevê-se um aumento do volume de trabalho nas áreas de Laboral, Reestruturação e Insolvência, e alguma expectativa relativamente às áreas transacionais, fruto do ano atípico que todos estamos a viver.

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