Em setembro congratulámo-nos com a entrada da Farfetch na bolsa de Nova Iorque, com um valor de 5,8 mil milhões de dólares (cinco mil milhões de euros). Confirmava-se, assim, o interesse dos grandes investidores pelas tecnológicas, bem como a importância do mercado de capitais para a alavancagem de empresas, principalmente em fase de crescimento. Dispersar o capital na bolsa é uma alternativa válida às soluções de financiamento mais clássicas, como o crédito bancário.
Mas o mercado de capitais é, por natureza, volátil e difícil, sobretudo em praças de menor dimensão como a portuguesa. Ainda há pouco tempo a Sonae MC e a Vista Alegre suspenderam as respetivas entradas em bolsa, devido às más condições do mercado. A Science4You, apesar do elevado potencial da empresa, cujo volume de negócios cresceu 320% em quatro anos e atingiu os 21 milhões de euros, prolongou a oferta pública de venda e distribuição.
Percebe-se o receio dos investidores. O risco de contágio da dívida soberana italiana, a guerra comercial entre os EUA e a China, a instabilidade nos países emergentes, o início do fim dos estímulos do BCE e o Brexit, entre outros acontecimentos, fizeram disparar as vendas no mercado de capitais e levaram a perdas de valor das empresas. E não apenas em Portugal, pois houve uma sucessão de cancelamentos de ofertas em bolsa nas grandes praças europeias.
Este cenário de volatilidade vem agravar a histórica falta de atratividade do mercado de capitais para as empresas portuguesas, que estão ainda muito dependentes do crédito bancário, agravado pelo contexto externo e afugentando os investidores da bolsa nacional. Este ceticismo em relação à bolsa é motivado ainda pelo desconhecimento que muitos empresários e gestores têm sobre o modo de funcionamento do mercado de capitais.
Claro que a conjuntura nacional e internacional dos últimos anos não deu os sinais mais positivos para gerar confiança, quer entre as empresas, quer entre os investidores. Mas a falta de familiaridade com o mercado de capitais também justifica a contenção das empresas portuguesas, quando se trata de dispersar capital na bolsa. Isto apesar de não faltarem exemplos de empresas portuguesas que alavancaram com muito sucesso o seu crescimento através do mercado de capitais.
Por isto, gostaria que a Science4You replicasse a sua história de sucesso também em bolsa, e que tivesse uma grande aceitação dos investidores institucionais e do retalho, nomeadamente os nacionais, mostrando interesse e orgulho numa empresa nacional, fundada e liderada por um jovem empresário que a criou do zero. Esta ousadia da Science4You e do Miguel Pina Martins tem que ser valorizada. Este é um exemplo e uma inspiração para todos os jovens, mostrando que temos que desafiar o nosso caminho, não seguindo a via mais fácil, mas sim a que faz mais sentido, acreditando no nosso sucesso.
A Science4You, para além de uma excelente empresa é um ótimo exemplo de empreendedorismo 100% nacional. A Science4You deve ser apoiada pelos portugueses através do investimento para que a entrada em bolsa seja mais um grande sucesso para este projeto global.