As laranjas da Califórnia já pagam 145% de tarifas para entrar na China, mas o resultado para os EUA foram limões amargos. Donald Trump não apenas fez aumentar o risco de recessão, o que já seria mau, mas pelo caminho pôs o mundo à porta de uma nova terrível crise financeira global, como a que atravessámos em 2008 e nos atirou para a grande recessão.

Tudo isto está a acontecer bem à frente dos nossos olhos, mas como ninguém quer ser a faísca que acelera uma nova crise financeira, os avisos têm sido contidos. O que está em causa é muito simples: a queda abrupta dos mercados, expressa nos biliões – biliões mesmo – a evaporarem-se dos mercados numa semana, pôs o mundo do crédito de pantanas e é aí que a coisa começa sempre.

Muito resumidamente, quem se financiou e deu ações como garantia enfrenta margin calls – e tem de reforçar as colaterais para compensar a desvalorização dos títulos e repor o rácio. Quando há muitos clientes a enfrentar esta montanha, então temos um problema geral que pode tornar-se universal. A isto junta-se a subida da yield da dívida pública americana, que não só revela o aumento da desconfiança face à economia americana, como desencadeou outro automatismo: os hedge funds estão a desfazer-se furiosamente destes títulos para ter liquidez.

Isto também aconteceu durante a pandemia, embora não em 2008, mas se juntarmos a isto o crash das bolsas, então… Houston, temos um vendaval à vista. Foi por isso que Trump fez marcha atrás a todo o vapor nas tarifas. O presidente americano está a brincar com nitroglicerina. Lembro que os bancos também usam obrigações para se financiar – se este negócio implode… e vale a pena recordar que o último leilão americano correu mal, então temos uma crise às três tabelas num momento em que o excesso de dívida pública tira espaço de ação orçamental aos governos. Trump, o mercantilista anacrónico, achou que a política podia mandar na economia e a economia está a dar-lhe uma valente lição. Ou ele aprende ou vamos ter muitos sarilhos.