O meu tipo de feminismo assenta em números. Na UE existem 7,3 milhões de gestores: 4,7 milhões são homens, os restantes 2,6 milhões são mulheres. Não somos apenas menos em lugares de chefia. Também recebemos salários. Entre as posições de topo, a diferença é de 23,4%. Números do Eurostat. E os números são como o algodão: não enganam.

É nisto que assenta o meu feminismo. Em números e factos. No meu estômago às voltas por saber que demora cerca de cinco segundos até chegar o revirar de olhos do homem que temos à frente quando falamos de igualdade de género. Mesmo quando tentamos, sem gritar, sem as manifestações emocionais e incendiadas que tanto assustam os homens, falar dos números.

Se é verdade que à entrada no mercado de trabalho somos todos mais ou menos iguais, o problema coloca-se sobretudo a partir, sensivelmente, dos 30 anos. Quando se trata de passar das estruturas intermédias da organização para o topo.

Ligar o tema à maternidade e à assistência à família é curto. Cada vez mais mulheres desistem ou nem sequer consideram ser mães. Seguramente que as responsabilidades que ainda assumimos na esfera familiar nos colocam na linha da frente do sacrifício de carreira. Mas acredito que cada vez mais há outra questão que explica igualmente os números. O desconforto que os homens sentem quando são obrigados a dialogar, a conceder, a lidar com o sexo oposto.

Mais. A evidência de que quando uma mulher chega a granjear a admiração profissional dos seus pares homens, normalmente é porque se despiu de características femininas e tende a ser melhor que os homens porque foi disputada desde o primeiro dia.

Lamentavelmente não tenho números para isto. Apenas a evidência empírica e a experiência das elites masculinas que nos lideram e que se fecham sobre si mesmas em clubes de homens por falta de hábito de lidarem connosco como pares intelectuais. Estamos prontas para sermos mais incompetentes que os homens quando os homens estiverem prontos para serem mais incompetentes que as mulheres.

Os líderes de hoje ainda são os líderes do antigamente. Ainda é a geração dos anos 60 e 70 que está no topo das empresas. Homens para quem a igualdade de género, na melhor das hipóteses, é um tema com o qual serão obrigados a lidar porque há uma lei nova. Ainda são eles quem escolhe os novos líderes. Mas sou uma otimista e acredito que o mérito prevalecerá quando as organizações, para sobreviverem, escolherem homens e mulheres com base nas suas competências.

Anseio pelo Novo Mundo em que não é preciso quotas. Em que não se escreve sobre igualdade de género. Em que não se legisla sobre desigualdade. Em que as mulheres não são equiparadas ao estatuto de minoria que é preciso proteger. É que, by the way, já cá andamos há uns tempos e a querer mais da vida do que a proteção dos homens.

Que difícil que é escrever sobre feminismo sem nos zangarmos pela falta de impacto de números que nos fazem a nós, mulheres, revirar os olhos e o estômago. Que difícil que é sermos lideradas por quem jamais lá chegaria se houvesse igualdade de género, o único terreno fértil para a vitória do mérito.

Como ler este texto demorou mais do que cinco segundos, os olhos dos homens já reviraram. Pena, porque são parte da solução, não são o inimigo. Só precisam de ajuda e coragem para liderarem com a razão, e não com o coração.