A proposta de Orçamento do Estado para 2024 traz boas notícias no que diz respeito à redução da dívida pública, prevendo que se mantenha a trajetória de redução desta última em percentagem do PIB. Pela primeira vez desde 2008, no próximo ano a
dívida pública portuguesa vai ficar abaixo da fasquia dos 100% do PIB, o que coloca Portugal num campeonato distinto daquele em que continuam vários países europeus que, nos últimos anos, nos habituámos a ter como colegas no pelotão dos mais endividados.
É uma boa notícia para Portugal e o Governo procura apresentar esta descida da dívida como uma vitória sua e o resultado de uma política de “contas certas”, que difere, em muito, da linha seguida por governos socialistas no passado.
Porém, o principal contributo para esta redução do endividamento do país tem sido garantido pelos próprios portugueses, que à semelhança dos outros europeus têm vivido num sistema de austeridade via inflação. De acordo com os cálculos avançados ontem em exclusivo pelo “Expresso”, a subida da inflação e o crescimento da economia suportaram 80% da redução da dívida pública entre 2022 e 2024, devendo-se os outros 20% aos esforços de consolidação do Governo. Significa isto que, embora os referidos esforços de consolidação sejam elevados face ao que tem sido habitual, o Governo tirou partido – e bem – de uma conjuntura muito favorável para a redução da dívida pública em termos relativos. E de uma forma que, politicamente, é mais fácil de gerir do que se tivesse de aumentar impostos ou de reformar o Estado, uma vez que a inflação é um ‘imposto escondido’ que a maioria da população sente na carteira, mas não compreende.
No fim do dia, o milagre da dívida está a ser pago por todos nós, na forma de preços mais elevados na alimentação, na energia e em muitos outros bens e serviços essenciais. O mérito de Fernando Medina, neste contexto, reside sobretudo nas escolhas que tem feito com a margem orçamental que esta conjuntura permite.
Nota da Direção do Jornal Económico:
Ao contrário do que sucedia até recentemente, o JE foi excluído de um encontro que o ministro das Finanças teve esta semana com os diretores dos principais órgãos de comunicação social. O JE lamenta não ter estado presente, mas renova o compromisso de continuar a procurar fazer jornalismo independente, rigoroso e de qualidade, sempre pautado pelo compromisso de exigência e escrutínio aos poderes públicos e privados.