A elevada taxa de participação nas eleições legislativas portuguesas de 2024 suscitará um conjunto de análises de jornalistas e de cientistas sociais, que procuraram explicar as reais razões subjacentes a tal participação.

Mas importa não esquecer que qualquer analista, ao debruçar-se sobre este tema, está a caminhar num labirinto de enigmas sociais, de acordo com Mark Franklin.

Segundo Franklin (2003: 325), a participação eleitoral é “um fenómeno colectivo, [mas também é] o resultado de milhares de decisões entre o voto e a abstenção; contudo, as motivações pertencem ao domínio do indivíduo. A opção pelo voto ou pela abstenção é tomada pelo indivíduo e apenas por ele”.

O processo da tomada de decisão de votar ou não votar radica sempre numa motivação pessoal, pelo que explicar essa participação com base num conjunto de percepções pós-votação é um exercício intrinsecamente complexo.

Por isso, “é pouco provável que consigamos explicar o nível de participação perguntando às pessoas por que razão votaram ou não votaram” (Franklin, 2003). Ainda assim, as análises avançarão um conjunto de causas explicativas sobre o aumento da participação, sem considerar que estamos num reduto individual.

Essas análises jornalísticas visam, no essencial, alimentar o frenesim mediático dos jornais e televisões, que acabam por amplificar o tema da participação eleitoral, qualificando-a como um fenómeno colectivo. Essa abordagem acaba por gerar uma situação de desresponsabilização individual quanto à escolha eleitoral. Ao tratarem esta escolha como um fenómeno social, o eleitor nunca se sentirá responsável pela sua decisão. Esta culpa será sempre colectiva.

Dito de outra forma, de acordo com essa perspectiva mediática, dir-se-á que o eleitor agiu com base num impulso colectivo e não por sua escolha.

É, efectivamente, mais fácil, e até mais cómodo, acreditar que a participação eleitoral se traduz num fenómeno colectivo. Mas a ciência política já demonstrou que a adesão ao acto eleitoral não é (somente) explicável nem social nem colectivamente.

No entanto, é possível avançar com algumas causas ou explicações possíveis, existindo, para o efeito, uma grelha teórica pré-estabelecida sobre as causas da participação.

É assim que o voto de alguns eleitores poderá ser interpretado como um acto de protesto, de penalização do governo e dos partidos do sistema. De qualquer forma, estas serão, sempre, motivações possíveis, pois as razões subjacentes a esta escolha a cada eleitor pertencem.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.