Ouvimos com frequência afirmar que Portugal não se pode dar ao luxo de desperdiçar a sua geração mais qualificada de sempre. Ainda recentemente, no seu discurso natalício, António Costa repetiu esta mensagem, aludindo à necessidade de incentivar o regresso daqueles que no passado partiram do nosso país em busca de melhores oportunidades.

Se analisarmos friamente as estatísticas, não restam dúvidas de que nunca, como nos nossos dias, tivemos tantos diplomados no ensino superior, embora ainda estejamos longe de cumprir a meta apontada pela estratégia Europa 2020 de ter 40% de diplomados do ensino superior em Portugal, entre os 30 e os 34 anos. O analfabetismo regrediu acentuadamente no nosso país e a taxa de abandono escolar precoce tem caído a um ritmo vertiginoso nas últimas décadas.

A geração Millennial (ou Y) é a que mais viaja, a que tem mais acesso à informação, a que tem índices de escolaridade mais elevados, a que cresceu num mundo digital, utilizando a tecnologia desde a infância. Precisa da Internet e das redes sociais como de oxigénio para sobreviver, adora partilhar experiências, trocar impressões, comparar, divulgar conteúdos, mas tende a encarar o conhecimento de forma superficial, atendendo à alucinante velocidade com que as informações circulam.

Se a televisão começa a ser claramente secundarizada face aos tablets e aos smartphones, que assumem um papel nuclear na vida dos Millennials, o que dizer dos livros e dos jornais que tinham uma posição de destaque na vida das gerações anteriores e que, independentemente do seu formato, em papel ou digital, começam a ser relegados para as prateleiras da História, de tal forma são menosprezados pela esmagadora maioria dos Millennials, incapazes de “perder” o tempo necessário para absorver uma boa obra literária, face à multiplicidade de alternativas de consumo mais imediatista que se lhes apresentam…?

Não é, pois, de espantar que a língua de Camões seja diariamente “assassinada” pelos Millennials, que, sem tempo para se deliciarem com os nossos grandes escritores, desconhecem as verdadeiras pérolas que nos foram deixadas por Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco, Agustina Bessa-Luís, Aquilino Ribeiro, Antero de Quental, Júlio Dinis, Sophia de Mello Breyner Andresen, entre tantos outros, que fizeram as delícias das gerações anteriores que, embora “menos diplomados”, tinham tempo e vontade de aprender com os escritos destes predestinados.

Criando uma escrita própria que os faz serem cada vez mais rápidos nas mensagens que transmitem através dos seus smartphones, os Millennials desvalorizam a língua pátria, dando recorrentemente erros clamorosos, que fariam corar de vergonha as gerações anteriores, mesmo aqueles que nunca tiverem condições socioeconómicas para frequentarem o ensino superior, mas que dispunham do tempo necessário para ler e cultivar o espírito e a mente. Assistir na RTP ao programa “Lição de Bom Português” é uma verdadeira agonia, com os transeuntes a serem confrontados com a sua ignorância no que à língua portuguesa diz respeito.

Assim, se os Millennials são, inquestionavelmente, a geração mais certificada, mais diplomada, estamos em crer que estarão longe de se poderem considerar a geração mais qualificada de sempre, embora não ignoremos que os atuais conhecimentos e as atuais competências são muito diferentes daqueles que eram requeridos há uns anos atrás, fruto de um progresso difícil de imaginar até pelo visionário Júlio Verne.

Camões, que perdeu o seu olho direito em combate contra os mouros, certamente preferiria ficar totalmente cego a ter que, diariamente, enfrentar a forma como a nossa língua é maltratada por parte dos Millennials.