Se há temas que têm sido muito discutidos ultimamente em Portugal são o futebol e os preços altos dos combustíveis. E, na verdade, este mês de junho é um mês marcante para estas duas temáticas. Mas, sem serem as discussões populares, o que mais têm em comum? O que é que pode colocar fãs de futebol e traders lado a lado?

Começou, no dia 14 de junho, o mundial de futebol em terras russas e logo com um jogo de abertura bastante peculiar, não fosse este disputado por dois dos principais players do mercado do “ouro negro”, a Rússia, país anfitrião, e o maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a Arábia Saudita. Apesar de ser uma partida com pouca expressão para os amantes de futebol, com certeza que não passou despercebida aos investidores da matéria-prima. Ora, de modo a estar presente neste jogo de abertura, o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman deslocou-se a Moscovo, onde esteve junto do presidente russo Vladimir Putin. Este encontro pode ter sido fulcral para o desfecho da reunião da OPEP na última sexta-feira, dia 22 de junho, que ocorreu em Viena como de costume.

Nesta reunião semestral esteve em causa o acordo estabelecido no final de 2016 e que tem estado em vigor desde o início do ano passado. Este acordo foi alcançado com o objetivo de reduzir a produção de petróleo, visto que existia um excesso na oferta da matéria-prima e que estaria a afundar os preços. Porém, com o petróleo a ser transacionado em máximos de 2014, existia a possibilidade de se decidir por um aumento na produção. Este aumento já tinha sido discutido no final do mês passado entre os dois países que deram pontapé de saída do campeonato do mundo, que até admitiram a saída gradual do acordo.

Quem também já se encontrava visivelmente preocupado com o preço do barril de petróleo era o presidente norte americano Donald Trump, que ainda em abril tinha proferido que os preços estavam “artificialmente altos”. Segundo a Bloomberg, os Estados Unidos teriam mesmo pedido à OPEP para aumentarem ligeiramente a produção, ainda que fosse numa ótica de compensação face as sanções norte americanas aplicadas ao Irão, o quinto maior exportador mundial. Após a cimeira histórica de Singapura, Donald Trump voltou a atacar os preços altos e a OPEP.

Tornava-se evidente que era mais do que provável um aumento na produção de petróleo, apesar da oposição de alguns dos países membros da OPEP. E assim foi. Diferentemente do mundial, o resultado desta reunião foi favorável tanto à Rússia como à Arábia Saudita, onde ficou decidido um aumento na produção de petróleo em cerca de um milhão de barris por dia.

Porém, com a crise do setor da energia venezuelano, e com as já referidas sanções dos Estados Unidos ao último adversário da seleção portuguesa, o Irão, existia uma expectativa no mercado para que os preços continuassem a sua tendência ascendente. Aliás, eram mesmo estes os países que, junto com o Iraque, apresentavam a maior oposição face ao aumento da produção de petróleo. Resta saber se este aumento será, ou não, suficiente para fazer descer os preços da matéria-prima.