Os avisos multiplicam-se e surgem de várias direções: a dívida global está numa trajetória insustentável e está a entrar na zona de risco, a crescer, mais cara e há pressão para aumentar o investimento. Antecipa-se que pode atingir níveis alarmantes até 2027, impulsionada por incertezas comerciais e políticas económicas. Arrisca mesmo fixar novos máximos, superando os valores aquando da II Guerra Mundial.

Uma pressão redobrada sobre os governos nacionais, sobretudo na zona euro. Basta ver que o disparo registado na última década superou o crescimento do PIB global e em 2027 vence uma parte muito considerável do stock já existente, agravando os custos, afetando o crescimento económico.

O FMI foi a instituição internacional mais recente a lançar o alerta: aproxima-se dos 100% do PIB no final desta década, arriscando níveis acima dos máximos registados em 2020, com a pandemia (98,9%). O Fundo projeta um preocupante nível histórico de 117%, caso se materializem os riscos mais severos devido a tensões comerciais. Critica duramente os países que privilegiam as tensões geopolíticas ao comércio livre.

E lança campainhas de alerta quanto à recente vontade de muitos governos, sobretudo na Europa, de aumentarem gastos com defesa, que levará a mais despesa em economias já com pouca margem orçamental. Também o Banco Mundial alertou recentemente que o alto endividamento é parte mais fraca da arquitetura financeira global ao sinalizar que a perspetiva para as nações endividadas é sombria devido ao crescimento lento de suas economias.

Em março, a OCDE destacou o disparo no financiamento em 2024, com países e empresas a conseguirem 25 biliões de dólares (22 biliões de euros) nos mercados em 2024, quase três vezes o nível registado em 2007. Tal coloca o stock total de dívida empresarial e soberana acima dos 100 biliões de dólares (87,9 biliões de euros).

Com este nível de dívida total global, governos, empresas e indivíduos estão a operar num ambiente de elevada alavancagem financeira. Ao mesmo tempo, o acréscimo no endividamento empresarial não se traduz em mais investimento, tornando improvável que a dívida existente se pague a si própria com o retorno em investimento produtivo. E o crescimento da dívida acima do PIB na última década mina a sustentabilidade da economia global.

Um cenário que levou já o renomado economista Daniel Lacalle antecipar uma iminente catástrofe e a pintar um cenário sombrio da economia global, criticando severamente o endividamento irresponsável de muitos governos que se tornam surdos quando o FMI sugere medidas de austeridade. A economia global está mais uma vez a entrar em terreno escorregadio após superar os grandes desafios da pandemia e da crise da inflacão.

Há riscos em todos os lugares que alimentam a incerteza com o lançamento de uma guerra tarifária a ameaçar reacender a inflação e estagnar o já débil crescimento global. A dívida pública global em que o mundo está afogado pode estar numa trajetória ainda mais insustentável do que as projeções oficiais sugerem. Se assim for, a crise mundial da dívida estourará em breve.