Um inquérito feito recentemente à população do Reino Unido sobre o mundo de hoje versus o mundo de há 40 anos concluiu que o mundo está pior, de acordo com 70% dos entrevistados. A história foi contada pelo ex-ministro Paulo Portas num recente evento da Crédito y Caución/Iberinform. Ora, o que é espantoso é que no mesmo período saíram da pobreza cerca de 900 milhões de pessoas e 130 milhões de crianças passaram a ser acesso à escolaridade mínima, sendo que também melhorou o acesso à água potável.
Para os cidadãos responderem de forma tão negativa contribuiu a perceção de quem olha primeiro para o seu quintal e depois para a evolução do mundo. Este está a mudar. Não apenas o mundo se tornou global, mas ficou digitalizado. Porém, o “quintal” continua a ser de cada um, ou seja, as preocupações na Europa são os “coletes” amarelos”, a perda de credibilidade de um governo francês que deveria combater o populismo e está a fazê-lo com populismo, ou a viragem política à direita em Itália e Espanha, ou a substituição de uma líder incontestada na Alemanha por uma figura relativamente desconhecida, ou ainda o exemplo do país mais a ocidente na Europa que é governado por uma coligação de esquerda e extrema-esquerda e onde foi anunciado o fim da austeridade.
Esse país não tinha desde há muito um período tão conturbado de greves e com um único objetivo: os cidadãos querem beneficiar do “milagre” deste Governo que acabou com as preocupações da poupança e do controlo de contas. Para o eleitorado é tempo de receber, ou seja, querem menos impostos e mais salários e, claro, mais rendimento disponível. E têm razão.
A Europa está a passar por uma crise de identidade mascarada por um engano coletivo ao nível das perceções. A Europa pensa que tem futuro num mundo global quando – lembra muito bem Paulo Portas – tem a Ásia e o Pacífico em crescimento, obrigando os EUA a “recolher às tábuas” perante um inimigo imediato que é a China e não a Rússia, pois este último é uma potência militar mas não económica. Depois, a Europa pensa ser um refúgio sem perceber que é a fronteira com África, o continente do futuro mas que é considerado um risco e não uma oportunidade.
O pior problema da Europa no imediato é a demografia, que não sustenta os direitos adquiridos. A “velha” Europa precisa de olhar para as migrações e aceitá-las dentro de determinadas condições. O que fez foi “empurrar com a barriga”. A Europa paga à Turquia para suster a rota dos Balcãs onde estão três milhões de refugiados. Entretanto, a rota desviou-se para Itália, a Europa abanou com a cabeça e o populismo venceu no país. Mais recentemente, a rota dos migrantes virou-se para Marrocos e Espanha, e o Vox, da extrema-direita, foi o partido que mais cresceu na Andaluzia. Resta saber quem se segue logo ali ao lado…