Contrariando outras previsões, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) prevê que o consumo de crude venha a aumentar nas próximas décadas. E o sector vai precisar de muito dinheiro para manter o ouro negro a jorrar, segundo o Outlook 2045 divulgado esta semana.
“Os apelos ao fim dos investimentos em novos projetos petrolíferos não fazem sentido e podem provocar o caos energético e económico. A história está cheia de exemplos de problemas que devem servir de aviso sobre o que acontece quando os decisores falham em perceber as complexidades da energia”, disse o secretário-geral da OPEP Haitham al-Ghais no relatório.
As conclusões da OPEP vão contra as da Agência Internacional de Energia (IEA) que declarou recentemente o “principio do fim” da era fóssil, segundo o diretor-executivo da organização Fatih Birol.
A OPEP é constituída pela Arábia Saudita, Angola, Argélia, Guiné Equatorial, Gabão, Irão, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, República do Congo, Emirados Árabes Unidos e a Venezuela. Também existe o grupo OPEP+, que participam nas iniciativas da organização, como aumento ou cortes de produção: Rússia, México, Azerbaijão, Bahrain, Brunei, Cazaquistão, Malásia, Omã, Sudão e Sudão do Sul.
1 – Consumo vai crescer
Em 2022, o mundo consumiu quase 100 milhões de barris diários (mb/d), com a OPEP a prever um aumento para os 110 milhões em 2028 e para os 116 milhões em 2045, são mais 16%.
2 – Onde vai crescer a procura?
Principalmente a partir de não-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), como a China, Índia, África e outros países da Ásia. Até 2028, a procura fora da OCDE vai crescer em 10 milhões de barris diários, com o valor a aumentar para mais 15 milhões de barris daqui até 2045
Até 2045, a Índia vai aumentar o seu consumo de 6,6 milhões de barris diários, com a China a aumentar em 4 milhões.
Por sua vez, os países da OCDE vão ver a procura a recuar em 9 milhões de barris diários até 2045.
3 – Qual a quantidade de investimentos que vão ser necessários?
Para sustentar este crescimento do consumo vai ser preciso uma ‘pipa de massa’ para o petróleo continuar a ser explorado: 14 biliões de dólares (13 biliões de euros) até 2045 de investimentos no sector, 610 mil milhões de dólares por ano (574 mil milhões de euros), em média.
Do total global, 11 biliões de dólares (10,3 biliões de euros) são necessários para o sector de exploração (upstream), numa média de 480 mil milhões de dólares anuais (452 mil milhões de euros)
Nos sectores do midstream (transporte e armazenamento) e downstream (refinação) serão necessários investimentos de 1,2 biliões de dólares (1,1 biliões de euros) e 1,7 biliões de dólares (1,6 biliões de euros), respetivamente.
“Se estes investimentos não se materializarem, isso representa um desafio considerável e um risco para a estabilidade do mercado e a segurança de abastecimento”, alerta a OPEP.
4 – Os carros a gasóleo/gasolina vão desaparecer?
Não, segundo as previsões da OPEP. Apesar de reconhecer “um crescimento rápido” dos veículos elétricos, considera “contudo” que os “veículos a combustão interna vão continuar a dominar a frota global” e “pesar mais de 72% em 2045” no total da frota global.
5 – Refinarias precisam-se
Até 2045, o mundo deverá ganhar uma capacidade de refinação de 19,2 milhões de barris diários, com 85% da nova capacidade a ter lugar na Ásia-Pacífico, Médio Oriente e África. “A continuação da tendência de migração da capacidade de refinação de países desenvolvidos para países em desenvolvimento reflete as mudanças na procura regional”, segundo a OCDE.
A organização destaca vários projetos em África, como a refinaria de Dangote na Nigéria (650 mil barris/diários) e também a do Soyo em Angola, com capacidade para produzir 100 mil barris/diários que deverá estar operacional em 2025, na província do Zaire, no noroeste do país, junto à fronteira com a República Democrática do Congo.
6 – Crescimento da população
A OCDE destaca que a população global vai passar dos quase oito mil milhões em 2022 para os 9,5 mil milhões em 2045. O disparo vai ser conduzido por aumentos no Médio Oriente, África e Ásia.
A população em idade laboral (15-64 anos) vai aumentar em 826 milhões durante este período,’ com a taxa de urbanização (pessoas a viverem em cidades) a subir dos 57% para os 66% em 2045.
A organização sublinha que o crescimento populacional vai provocar um aumento das necessidades energéticas.
7 – Consumo primário de energia vai disparar
Até 2045, o consumo primário de energia vai subir 23% de 291 milhões de barris diários para os 359 milhões de barris diários.
“O crescimento da procura da energia vai ser conduzida pelos não-membros da OCDE”, com a Índia a representar cerca de 28% do deste crescimento, Já na OCDE a procura deverá declinar marginalmente.
8 – Petróleo vai continuar a dominar
A procura por todas as fontes primárias de energia vai continuar no longo prazo, com a grande exceção a ser o carvão, que vai sendo abandonado devido à poluição.
Até 2045, o consumo de energias renováveis (solar e eólica) vai crescer 34 mb/d (com um crescimento anual de 7,5%), para um total de 42 milhões de barris diários. O seu peso no mix de combustíveis sobe dos 2,7% para os 11,7%.
Mas a procura por petróleo vai “crescer fortemente” e apesar do recuo “modesto” no mix energético, o “petróleo vai continuar a ser o combustível com a maior fatia em 2045”: 29%. Dos 90 mb/d para os 106 mb/d.
Durante este período, a procura por gás natural vai subir 20 mb/d, com o seu peso a subir um ponto para 24%, dos 67 mb/d para os 87 mb/d.
Já a procura por carvão vai recuar 21%, com o peso no mix a descer 11 pontos para 15%, dos 76 mb/d para os 54 mb/d.
É também de registar o crescimento do nuclear dos 15 mb/d para os 24 mb/d, quase 9 mb/d.
Já a energia hídrica cresce em quase 3 mb/d para os 10,5 mb/d, enquanto a biomasse sobe quase 9 mb/d para os 35 mb/d.
Desta forma, o ranking dos combustíveis mais consumidos em 2045 ficará assim: petróleo (29%), gás natural (24%), carvão (15%), solar/eólica (12%), biomassa (10%), nuclear (7%) e hídrica (3%).
9 – Ásia-Pacífico domina
A região da Ásia-Pacífico continua a ser o principal destino para as exportações de crude. Entre 2022 e 2045, as compras nesta região vão subir de 23 mb/d para 33 mb/d.
10 – Quais os sectores que registam maior aumento da procura?
O crescimento vai ser liderado pelo sector do transporte rodoviário (+4,6 mb/d), sector petroquímico (+4,3 mb/d), e pelo transporte aéreo (+4,1mb/d).
Apesar do avanço do automóvel elétrico, o petróleo para transporte rodoviário vai ver a sua procura aumentar: +4,3 mb/d até 2030. Entre 2022 e 2045, o aumento vai ser de 4,6 mb/d para os 49 mb/d.
Em relação aos produtos refinados, o jet fuel/querosene vai registar o maior aumento (+4 mb/d), seguido do etanol/gás liquefeito de petróleo (+3,6 mb/d), diesel/gasóleo (+3,1 mb/d), nafta (+2,5 mb/d) e gasolina (+2,5 mb/d).
11 – Moçambique
Além da referência à refinaria do Soyo em Angola (ver supra), o relatório da OPEP também destaca que Moçambique vai acrescentar “volumes modestos” relacionado com o projeto de gás natural liquefeito no norte do país que deve arrancar em 2026.
12 – Brasil
Já o Brasil continua a ser um dos principais contribuintes para o crescimento do fornecimento por parte de não-membros da OPEP, com a produção a subir dos atuais 3,7 mb/d para os 4,8 mb/d em 2028, à medida que vários projetos de grande escala no pré-sal entram em produção.
Apesar de novos poços em produção, o crescimento vai ser travado com o declínio de poços mais antigos onshore e offshore.
Em termos de novos projetos, a OPEP destaca a entrada em operação de várias áreas no campo de Búzios, “uma das mais prolíficas do país. Outros projetos inclui a área de Bacalhau, onde a Galp está presente, que entra em produção em 2025, e o projeto Sergipe-Alagoas que vai ver o primeiro óleo em 2026.
A área da bacia de Santos, pré-sal, continua a ser bastante atrativa, mas o Governo quer incentivar a exploração na zona do Equador, em áreas onde tanto a Guiana Francesa como o Suriname já descobriram petróleo. A Petrobras tem destinado cerca de 3 mil milhões de dólares (2,8 mil milhões de euros) para estas áreas. No entanto, os ativistas ambientais estão a criticar a exploração na bacia do rio Amazonas.
“O Brasil deverá continuar a ser uma das principais fontes de abastecimento de líquidos por parte de não-membros da OPEP dados os seus largos recursos, política estável e infraestruturas bem estabelecidas, garantindo a continuação do investimento”, segundo a OPEP.
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