Oito anos de crise económica e financeira, a maior desde 1929, serviram para revelar os pés de barro de um modelo que vigorou durante mais de três décadas e que gerou o maior crescimento económico mundial desde que há registos.

É certo que o liberalismo e o comércio livre, que escancarou as portas dos mercados mais ricos do plena à voracidade exportadora de chineses, coreanos, turcos e indianos, entre outros, tirou mais de mil milhões de cidadãos do mundo da pobreza extrema.

É verdade que países outrora subdesenvolvidos se aproximarem dos níveis de riqueza da Europa e da América do Norte, repartindo a riqueza mundial por um maior número de países e regiões.

É indesmentível que o comércio livre teve um impacto positivo sobre o crescimento mundial. E está comprovado que a melhoria geral do nível de vida das pessoas permitiu a alguns países aligeirarem o dirigismo económico e aproximarem-se do modelo das economias de mercado suportadas por um Estado de Direito.

Mas tudo isso, a que preço?

Visto da Europa, a última década foi catastrófica. Com as excepções da Alemanha e da Escandinávia, em todos os países da União Europeia os cidadãos perderam rendimentos, empregos e qualidade de vida.

A Europa perdeu terreno no mapa da economia mundial e recuou nas áreas do ensino, da investigação, da criatividade. Nunca, como hoje, a Europa foi tão pouco competitiva, tão ineficiente, e teve uma tão baixa quota dos mercados mundiais. Nunca, como hoje, a Europa foi tão burocrática e reguladora.

Uma dura realidade, que as estatísticas produzidas em Bruxelas não conseguem disfarçar.

Se a obrigação de um governo é garantir a Ordem e o Progresso do país e dos seus cidadãos (curiosamente a divisa da bandeira do Brasil), então o proteccionismo contra a invasão asiática, a crítica da corrupção e das fracas lideranças políticas, a luta contra a regulação excessiva, a revolta dos países europeus contra a ingerência de Bruxelas, justificam-se. Todos eles.

E é isso que justifica Trump nos EUA, o Brexit na Europa, Bolsonaro no Brasil, ou a revolta da Itália contra as inexplicáveis regras orçamentais da União Europeia. O mundo está de facto a mudar. E pelo score destes últimos dez anos, não necessariamente para pior. A ver vamos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.