Todos os dias, em todo em lado, ouvimos falar e utilizamos Inteligência Artificial (IA). Quando usamos o computador para obter informação na internet, quando recebemos artigos e notícias que nos possam interessar no telemóvel, ou sempre que nos sentamos para ver um filme nas plataformas de streaming.

O termo foi cunhado por John McCarthy, em 1956, definindo-o como a ciência e engenharia para produzir sistemas inteligentes. As suas caraterísticas, aliadas à sua ubiquidade, invisibilidade, nomeadamente, aprendizagem automática, evolução e capacidade de surpreender, vão abalar a humanidade, como menciona Alex Hern no seu artigo “Technology in 2050: will it save humanity – or destroy us?”.

O dilema faz parte das agendas. Para o físico Stephen Hawking, “o desenvolvimento total da inteligência artificial poderá significar o fim da raça humana”, enquanto que para Bill Gates a “IA é apenas a última novidade no mundo da tecnologia, algo que nos permitirá produzir muito mais com muito menos”.

No livro “A era da Inteligência artificial” (Henry Kissinger, Daniel Huttenlocher, Eric Schmidt), os autores colocam uma questão que me surpreendeu, como arquiteta interessada em tecnologia, e que serve para uma reflexão de início de ano: “Quando a IA proporcionar a um burocrata, a um arquiteto ou a um investidor, a rápida previsão de cenários ou a simples análise de resultados, em nome de quê deixaram eles de usá-la?”.

É inegável que qualquer avanço tecnológico transforma a maneira como projetamos e construímos os nossos edifícios e cidades, e a AI não é exceção. Esta irá assumir um papel primordial na gestão tanto do mundo físico como do digital até 2050. O 5G, ou web 3.0, vai assim desbloquear o potencial da IA e tornar-se numa força motriz para enfrentar os desafios globais que se desenham à nossa frente.

Na arquitetura, os avanços tecnológicos despertam paixões e medos. São vários os arquitetos e urbanistas interessados em descobrir como a IA, ao longo das próximas décadas, irá transformar as suas práticas profissionais. O arquiteto Neil Leach, no seu recente livro “Architecture in the Age of Artificial Intelligence. An introduction to AI for Architects”, apresenta um conjunto de exemplos e refere que as aplicações da IA “tornaram-se tão vastas na arquitetura que talvez devêssemos referi-las coletivamente como um contributo para uma forma de ‘inteligência arquitetónica’, uma abordagem inteligente da conceção arquitetónica”.

No setor da construção, Balfour Beatty, no seu artigo “Innovation 2050 – A Digital Future for the Infrastructure Industry”, faz algumas previsões. Os robôs assumem a construção de estruturas complexas, enquanto outros elementos serão autoconstruídos por processos inteligentes. Os drones serão responsáveis por inspecionar as obras e recolher dados para prever e resolver problemas antes sequer de eles ocorrerem.

As cidades do futuro vão existir tanto em forma física como digital e a fronteira entre as duas vai tornar-se cada vez mais ténue. A arquiteta Daniela Silva diz-nos que no futuro “iremos percorrer a cidade física, enquanto que ao mesmo tempo visitamos a cidade digital, como se se tratasse de uma camada digital sobreposta à anterior”.

Compreender esta visão de futuro inteligente implica compromisso e oportunidade. Os leitores que nasceram no século XXI estão preparados. O ano de 2022 é o momento para definir que tipo de parceria queremos ter com a inteligência artificial e a realidade que daí resulta.