A pandemia de Covid-19 pode ser vista como um novo “11 de setembro” pelo seu impacto global e duradouro.

Há quase 20 anos, de repente e “sem aviso”, a queda das Torres Gémeas traumatizou uma geração e marcou um ponto de viragem num mundo que parecia vir progressivamente a “desanuviar” e a tornar-se mais livre, sobretudo desde o final da Guerra Fria. Aliás, é preciso regressar à queda do muro de Berlim para encontrar um momento de igual importância na História mais recente.

O 11 de setembro trouxe-nos novas guerras, novas alianças e novas divisões, o terrorismo sem rosto, mais xenofobia, mas também o fortalecimento das agendas securitárias. Foi também o início de uma perspetiva mais cética relativamente aos governos e à sua vontade de dizer a verdade aos cidadãos. Da mesma forma, e seguindo o aforismo de que “há décadas em que nada acontece, mas há semanas em que décadas acontecem”, há um mundo antes e após a pandemia que ainda estamos a descobrir.

As pessoas já mudaram a forma como se relacionam, vivem, trabalham e gastam o dinheiro. As empresas já perceberam que têm de adaptar-se em termos financeiros, operacionais e de mercado. Os Estados estão a tornar-se ainda mais musculados, mas também mais endividados e dependentes de um sistema monetário a testar os seus limites e as grandes potências mostram grande desconfiança entre si. E, tal como em 2001, o medo e a dúvida imperam no nosso quotidiano.