Uma das leis do universo preconiza que o bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova Iorque. Neste caso, a crise económica na Rússia foi um dos fatores que despoletou a catástrofe humanitária na Síria. Com a chegada de Putin ao poder em 2000, fica para trás uma década marcada pelo caos social e por uma corrupção generalizada, na qual os oligarcas criavam impérios a partir do saque das empresas estatais e as zonas urbanas eram marcadas por uma violência protagonizada por máfias locais.
Durante os seus dois primeiros mandatos, a economia russa vive um período de crescimento prolongado, alicerçado nas reformas económicas iniciadas na década de 90 e numa evolução favorável dos preços do petróleo e do gás natural, situação que permitiu uma subida generalizada dos salários e das pensões, aliada a uma revitalização do exército e a uma tentativa de restabelecimento da paridade nuclear estratégica com os EUA. A título ilustrativo, o rendimento dos russos neste período passou de menos de dois mil euros por ano, na altura em que tomou posse, para cerca de 12 mil euros no final do seu mandato.
Contudo, desde 2012, o ritmo do crescimento económico abrandou fortemente, devido ao impacto dual do preço moderado das matérias-primas e das sanções económicas do ocidente após a intervenção militar na Ucrânia, com a Rússia a encontrar-se num período prolongado de estagnação, sendo sintomático desta situação a regressão da taxa de pobreza para níveis de 2007.
Se, durante o período de ressurgimento da economia russa, Putin conseguia agradar aos seus cidadãos através de benefícios económicos, agora que esta bonança terminou, utiliza os conflitos com nações estrangeiras para reforçar o seu nacionalismo, tendo recuperado os dois principais pilares do Estado soviético: a propaganda e a repressão. Para além da intervenção militar na Síria e na Ucrânia, Vladimir Putin decidiu resgatar a Kiev uma glória russa, a Crimeia, onde estacionou a frota do Mar Negro. Apesar de a NATO ter encarado a atitude como uma violação da ordem pós-Guerra Fria, em Moscovo a anexação foi vista como motivo de orgulho patriótico.
Por um lado, existe um endurecimento das posições políticas e militares, com o objetivo de colocar Moscovo no xadrez do Médio-Oriente, estando no seu horizonte eventuais alianças para um levantamento das sanções económicas e para a manutenção da Ucrânia na órbita do Kremlin. Por outro, e em termos económicos, assiste-se a um crescimento avassalador da participação do Estado na economia, tendo duplicado o seu peso nos últimos anos, com o complexo industrial-militar a assumir-se mais uma vez como a locomotiva da economia.
Este comportamento de Putin, o criador de um sistema em que 144 milhões de russos dependem da vontade de uma única pessoa, além de incómodo é também uma ameaça à estabilidade mundial, não refletindo um ressurgimento da Rússia, mas sim uma crónica e debilitante fraqueza, na qual as medidas adotadas só vêm agravar o fosso para as nações mais desenvolvidas.
Os desafios da sociedade russa para um crescimento vigoroso e sustentado da economia passam por aumentar a produtividade a todos os níveis, empresarial e do setor estado, e por diversificar a economia para além do setor do petróleo e do gás natural. Apesar de a Rússia ter falhado sistematicamente nos encontros com a modernidade, é um país com grandes potencialidades, um povo com uma resiliência notável, conhecido por ter dado ao mundo grandes criadores na ciência e na arte.