Entre o choque e o pavor – exceto por parte daqueles que nada percebem de economia e almejam regressar a 1975 – os portugueses acordaram e deram por si num cenário de renacionalização da TAP. Na altura em que escrevo, ainda decorrem negociações entre o Governo e os acionistas privados.

O ministro Pedro Nuno Santos brilhou no Parlamento com mais uma intervenção pouco responsável e desrespeitosa para com os deputados, mas também prejudicando objetivamente o valor da empresa e dos seus trabalhadores. A gestão privada – resultado da privatização – transformou a TAP, em cinco anos, numa empresa de maior dimensão e com um valor incomparavelmente superior. Infelizmente, em todo este processo, o padrão irresponsável das declarações do ministro deixaram marcas insanáveis na companhia.

“Se o sócio privado aceitar, aceita. Se não aceitar, não aceita. E acabou”, terá dito o ministro a um órgão de comunicação social. Infelizmente, por tentadoramente simplista que a frase seja, se os privados como tudo indica não aceitarem as condições do Governo, tudo isto está muito longe de acabar. Aliás, ainda nem sequer começou. Não só uma nacionalização conflituosa da TAP poderá originar um moroso processo judicial, como não é sequer pacífico que a Comissão Europeia deixe passar com bons olhos uma renacionalização com os contornos indiciados pelo Governo.

É verdade que a 25 de junho a Comissão deu luz verde para que a Alemanha contribuísse com 6 mil milhões para a recapitalização da Deutsche Lufthansa AG (DLH) – empresa mãe do Lufthansa Group – mas essa mesma recapitalização não foi um regresso da companhia aérea alemã às mãos do Estado, embora como compensação pela ajuda financeira, o Governo germânico tenha reforçado para 20% a sua posição acionista e garantido lugares no conselho de administração da transportadora. Por cá, fala-se de 1,2 mil milhões, o que não deixa de ser muito dinheiro.

Por outro lado, e de acordo com as obrigações do contrato celebrado anteriormente pelo Governo, se – como tudo indica – a Parpública vier a exercer a opção de compra, adquirirá as ações da Atlantic Gateway pelo preço resultante de uma avaliação independente, acrescido de 20%.

Em suma e para já, o que é claro é que o Governo socialista em geral e o ministro da tutela em particular têm uma responsabilidade muito grande na perda de valor registada pela TAP ao longo de todo este processo, não sendo a pandemia da Covid-19 a única responsável por essa mesma diminuição do valor dos ativos da transportadora.

No meio de tudo isto, e parafraseando o ministro Pedro Nuno Santos, o sócio privado aceitará ou não. Mas uma coisa é certa: o “novo futuro” da TAP está apenas a começar.

 

A Área Metropolitana de Lisboa reforçou os transportes, em particular o número de autocarros. É uma boa notícia, mas que não vem mesmo assim suprir na totalidade a necessidade da procura pelos passageiros, e deverá ser acompanhada por garantias sérias de respeito pela lotação exigida nas viaturas e pelo cumprimento de todas as recomendações de higiene e segurança.

 

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