Passou um ano desde a eleição de Donald Trump. Marcada por temas incontornáveis, como a imigração, comércio, emprego e investimento, esta presidência ficou marcada por uma mudança profunda, pelo menos para os americanos.
As taxas alfandegárias anunciadas unilateralmente em março deste ano, mudaram as regras do comércio mundial. As taxas “recíprocas” com condicionalidades, que variaram de país para país, redesenharam cadeias de valor e de capitais a favor dos EUA.
Pode gostar-se mais ou menos do método, mas o efeito é inegável: os EUA conseguiram estar no centro da captação de investimento em setores estratégicos que vão assegurar, por décadas, a hegemonia americana, desde os semicondutores, defesa e energia, a toda uma nova infraestrutura necessária para o desenvolvimento da Inteligência artificial (IA).
O primeiro bloco económico que atingir a Super Inteligência Artificial vai dominar o mundo. Essa corrida está a ser feita entre os EUA e China. Como sabemos, a Europa deixou de contar há muito. E o melhor que pode fazer é comprar participações em empresas americanas para não se tornar apenas num destino de férias.
Os compromissos de investimento alcançados, quer na recente visita à Ásia, quer aos países árabes, na ordem dos triliões de dólares, contrastam com uns parcos milhares de milhões da Europa. Ao mesmo tempo, Trump promove a reindustrialização dos EUA, com a captação de investimento em alto valor acrescentado e a uma velocidade de execução que os líderes europeus não conseguem acompanhar. O tempo de esperar por aliados acabou.
Os mercados também deram a conhecer o seu veredicto. As bolsas norte-americanas renovaram máximos históricos, refletindo o aumento de lucros e a perspetiva de ganhos de produtividade substanciais resultantes do desenvolvimento da IA, que irão beneficiar as empresas americanas. O poder do mercado de capitais americano, de transformar investimento em valor para o acionista, não tem rival – é o único mercado a ter empresas que valem triliões de dólares.
Deste lado do Atlântico, passou um ano e nada mudou. A Europa continua presa entre uma guerra à sua porta — com o choque energético e estratégico que ela implica — e governos instáveis e incapazes de criar condições para o investimento. A incerteza regulatória, a lentidão no licenciamento, a fragmentação do mercado de capitais europeu, a iliteracia financeira e o protecionismo do nacionalismo eliminam o potencial de crescimento.
Falta criar campeões mundiais, fomentar fusões e a integração de empresas europeias, aprovar reformas que libertem produtividade e atraiam capital de longo prazo, incluindo a revisão do papel de bloqueio que, muitas vezes, os sindicatos têm. O resultado é um continente que reage, enquanto os EUA moldam a agenda e o mapa do capital.



