No dia 1 de dezembro, num mercado de Natal em Potsdam, arredores de Berlim, a polícia desativou um engenho explosivo de fabrico artesanal. Um dos vários atentados que as forças de segurança têm vindo a evitar. Sucesso que não foi logrado há cerca de um ano também num mercado de Natal na Alemanha, em Estocolmo e, por duas vezes, em Londres.
Como é habitual, a notícia fez soar as campainhas da segurança no Ocidente. Uma situação compreensível, embora convenha dizer que não é o Ocidente a principal vítima do terrorismo religioso. Constatação que, no entanto, não sossega muitos ocidentais. Uma preocupação que urge relativizar assertivamente.
Malgrado o terrorismo ser um fenómeno antigo, só assumiu uma feição universal há menos de 150 anos e a sua vaga global religiosa é recente, uma vez que apenas surgiu na sequência da revolução no Irão.
Quanto ao medo ocidental, na atualidade, deve-se, no essencial, ao facto de ter surgido o Estado Islâmico. Um grupo terrorista que tinha como grande objetivo a construção de um califado onde vigoraria a sharia. Um califado que implicava a (re)conquista de territórios, entre os quais Portugal.
Daí que, como Berger e Amarasingam escreveram no Washington Post, mais de metade dos vídeos e fotografias do Estado Islâmico, em agosto de 2015, fossem de natureza utópica e mostrassem um califado onde a vida decorria com normalidade e onde a felicidade era a constante nas atividades diárias: na rua, nas escolas, nos hospitais…
Imagens que serviam de propaganda para o recrutamento de ocidentais. Combatentes para a edificação do califado e esposas para assegurarem a multiplicação da população. Por isso, a viuvez não tem direito a luto. Há que recasar as viúvas.
Ora, o sucesso militar das forças da coligação desalojou o Estado Islâmico da quase totalidade dos territórios que ocupava. O califado “califoi-se” e as deserções sucederam-se, embora, como Charlie Winter afirma, em setembro do corrente ano, os conteúdos do Estado Islâmico ainda englobem 10% dessa visão utópica. A insistência na apresentação do paraíso na terra. Mais uma contradição.
O Ocidente acredita que essa propaganda colherá poucos dividendos. Só que não desconhece que a perda da base territorial pelo Estado Islâmico será acompanhada da dispersão de operacionais. Homens e mulheres. Um fenómeno a requerer vigilância permanente e ação concertada a nível das forças de segurança dos vários países.
Os lobos solitários e as pequenas células, ainda que aparentemente adormecidos, estão ativos. Não são necessários grandes dotes para prever que novos atentados irão ser perpetrados e, numa quantidade incomensuravelmente superior, evitados. Porém, nada que deva pôr em causa o modelo civilizacional do Ocidente. Há que continuar a celebrar o Natal. Participar em eventos. Passear nas ramblas. Recusar ser refém na própria casa.
Na verdade, o pânico é tão contraproducente quanto a ilusão vendida pelos interesses que apregoam as virtudes e a inevitabilidade do Estado securitário.