O fim do controlo do Daesh sobre a quase totalidade dos territórios que faziam parte do autoproclamado califado está longe de representar o fim da ameaça jiadista para o Ocidente. De facto, a derrota no terreno não significou a capitulação total porque um número considerável de jiadistas não abandonou as suas convicções. Muitos desses terroristas que acreditam combater em nome da religião estão a deslocar-se para outros cenários para continuarem a sua pretensa guerra santa.

Assim, alguns terroristas de proveniência ocidental continuarão em África e no Médio Oriente ou deslocar-se-ão para países onde estão em curso lutas pela deposição de governos maioritariamente islâmicos, mas que recusam aplicar a sharia. Para estes terroristas, tal como para os mercenários, o que muda é apenas o local do conflito. Afinal, a queda do Estado Islâmico não significa que não haja outros projetos ambiciosos, como a pretensão do Jemaah Islamiya (JI) de criar um califado islâmico englobando a Indonésia, a Malásia, o sul da Tailândia, Singapura, Brunei e o sul das Filipinas. Sem contar que o ISIS e a Al-Qaeda dispõem de numerosos afiliados.

Quanto aos outros jiadistas ocidentais virão para oeste, embora nem todos pretendam regressar ao país de origem. Uma forma de iludir os serviços de antiterrorismo. O refúgio num país considerado como santuário. A estratégia que possibilitará o estabelecimento de células que permanecerão adormecidas até considerarem reunidas as condições para o regresso à barbárie.

Como é óbvio, também há quem pretenda regressar devido à desilusão experienciada na Síria e no Iraque. Só que, mesmo nesse caso, desilusão e desradicalização não funcionam necessariamente como sinónimos. Por isso, a ameaça jiadista permanece.

Uma situação complexa porque há jiadistas a contas com a justiça – com mandados de captura ou já detidos – e outros que apenas estão a ser oficialmente vigiados. Além disso, se aos jiadistas – homens e mulheres – que regressam forem acrescentados os seus filhos nascidos fora de portas, a dimensão do problema agudiza-se.

Os dados já disponíveis confirmam que não existe uma política concertada a nível do Ocidente no que concerne a esta problemática. Desde logo porque a ameaça não é sentida com igual intensidade por todos os países, uma vez que cada um tende a valorizá-la de acordo com o número dos seus cidadãos que aderiram à causa jiadista, esquecendo que o terrorismo é um problema global. Um esquecimento que urge lembrar numa conjuntura marcada pela inexistência ou pela porosidade das fronteiras, como ficou patente nos atentados de 2015 em Paris.

O Ocidente ainda se interroga sobre as causas que conduziram à radicalização de um número não despiciente dos seus cidadãos. Só que a acuidade da ameaça não autoriza reflexões demoradas. Controlar o perigo fundamentalista vai exigir uma estratégia multidisciplinar e supranacional.

Não sendo desejável cair no alarmismo securitário, importa reconhecer que a opinião pública vai ter de assinar cheques, obviamente não em branco, para que o modelo de vida ocidental não seja posto em xeque.