As disputas eleitorais do nosso tempo são confrontos de estilo e de moralidade. Opõem a liderança polida, desenraizada e globalista à liderança galvanizadora, viril e nativista.

Reconhecer que estamos perante confrontos de estilo e de moralidade não é necessariamente uma constatação negativa pois é algo incontornável. Por definição, os eleitores não se informam completamente sobre todas as temáticas tratadas em campanha e o sentido de voto segue motivações muito variadas e até imprevisíveis.

Cada eleitor pode ver-se influenciado por uma filiação ou simpatia partidária, pelas opiniões de familiares e amigos, pelas percepções subjectivas sobre a sociedade e a economia, pelas mensagens difundidas repetidamente nos meios de comunicação, pela devoção a um determinado candidato, ou até pela ocorrência de um evento inesperado durante a campanha.

Portanto, os eleitores estão racionalmente desinformados acerca de questões específicas e a ordem natural das coisas faz com que a luta política se esgrima e decida nos domínios do estilo e da moral. Para além deste facto inultrapassável em democracia, quando as sociedades atravessam fases de estagnação e de crise existencial, as questões morais ganham importância de vida ou morte. É chegada a hora dos líderes que identificam a existência dessas crises e que tentam personalizar a ordem onde parece reinar o caos.

Em terceiro lugar, a força da polarização na era da informação imediatista e superficial também leva a que a mensagem tenha êxito sobretudo pelo estilo e pela sua carga moralizante perante os eleitores.

Posto isto, é pacífico reconhecermos que todos estamos mais ou menos influenciados pela nova dinâmica de polarização em política que traz consigo coisas positivas e coisas negativas.

O mais positivo talvez seja a concorrência de ideias e o ímpeto de contestação a uma oligarquia decadente. É uma força que vem recordar que não existem respostas definitivas em política e que o combate está sempre à espreita para varrer a pressão despótica dos consensos que servem os interesses de alguns.

O mais negativo é o espírito de cruzada e de cancelamento que vai favorecendo a despersonalização daqueles que professam valores diferentes. Essa despersonalização inclui o incentivo à violência contra candidatos políticos, como é fácil notar em algumas deploráveis reacções à tentativa de assassinato de Trump.

A nossa época está repleta de líderes políticos banais ou medianos. Não transparecem espírito de missão, não revelam os seus traços de personalidade em público (talvez por falta dela), ocultam emoções e convicções pessoais e evitam consagrar o seu serviço à nação na base de vínculos geográficos e culturais firmes. São técnicos obedientes que exercem poder arbitrário de forma fria e que transformam os cidadãos em consumidores anónimos, sem autonomia e sem conexões sociais fortes. É natural e legítimo que os eleitores se sintam desmotivados e desconfortáveis perante esta estirpe de líderes.

Biden é um exemplo muito elucidativo dessa estirpe fadada ao fracasso, pelo seu desempenho insólito na presidência dos EUA e pela forma como a oligarquia tentacular procura amparar e disfarçar as suas incapacidades físicas e cognitivas. É inclusive um bom exemplo de como a luta política é essencialmente um confronto de estilos e de moralidades.

Este Presidente recorre a um discurso fanático de alusão a valores indefinidos, ostentando-se como guardião dos valores democráticos e incitando ao ódio contra Donald Trump. É um discurso gasto que ainda vai conquistando alguns apoiantes. Por outro lado, apesar das muitas incapacidades evidenciadas ao longo do seu mandato e do dramático escalar da guerra, poucos vêm nas debilidades de Biden um risco para a segurança interna e para a paz internacional. Uma indiferença que contrasta radicalmente com o alarmismo difundido pela opinião pública durante o mandato de Trump.

Como dizia Camões, “O fraco rei, faz fraca a forte gente”. Não é suposto confiarmos os destinos da nação a alguém que pode desencadear uma tensão diplomática cada vez que se senta à mesa com altos representantes internacionais.

Algumas pessoas poderão perguntar: como é possível que uma nação hegemónica não atraia personalidades dignas de admiração, mais competentes, virtuosas ou minimamente entusiasmantes? É uma das perguntas mais desafiantes do nosso tempo e que se aplica a muitos contextos nacionais, começando desde logo pelo português.

A questão crucial é se isso compensa, se prestigia, se é minimamente apelativo ser odiado numa primeira fase. Quem tem coragem de se chegar à frente para enfrentar oligarquias moribundas? Que tipo de receptividade pública encontrará? Serão raras as personalidades que estarão disponíveis para enfrentar o “Estado oculto” e a incompreensão das massas.

O certo é que a insatisfação democrática ditou uma nova dinâmica de combate moral entre candidatos políticos. As eleições ganham-se na base das emoções e na capacidade de mobilizar os eleitores abstencionistas adormecidos. Quem não se adaptar a esta nova fase da nossa história, sofrerá pesadas derrotas ou irá espernear pela sobrevivência com recurso a coligações de fachada, percepcionadas como embustes eleitorais e frágeis como casas construídas na areia.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.