“And therefore we should liken him to a serpent’s egg – once it has hatched, it becomes dangerous, like all serpents. Thus we must kill him while he’s still in the shell” – Brutus, Shakespeare Julius Caeser
O título que motiva estas linhas foi retirado do filme de Bergman, tendo este, por seu turno, inspiração na citação supra feita.
Se há anos atrás vivíamos tempos difíceis, magistralmente representados por Chaplin no filme “Tempos Modernos”, a Covid-19 veio piorar tudo. Da servidão das fábricas passámos à dependência dos meios electrónicos, criando uma evidente diluição entre tempos de repouso e tempos de trabalho. Por outro lado, a dita “coleira electrónica”, sem a qual muitos de nós já não conseguem trabalhar, acaba por ser invejada pelos que estavam empregados em áreas particularmente fustigadas pelas medidas de reacção à pandemia ou, como também sucede, pelas empresas que delas se aproveitaram.
Não há como negar que não estamos no fim, muito provavelmente nem no início do fim. Mesmo com as vacinas (se e quando cá chegarem…), a nossa frágil economia, assente principalmente no turismo, demorará a recuperar e, pelo meio, existirão mais vítimas do que as que constam das estatísticas que nos servem todos os dias à hora de almoço. Se uns nos mentem no optimismo, outros aproveitam a realidade para se promoverem, incitando uns contra os outros.
O ambiente é, pois, propício a saltos em frente, mesmo que se avizinhe o abismo. Em tempos de crise, seja ela económica, seja ela de valores, surgem sempre uns arautos, munidos de discursos populistas, visando capturar uma multidão de insatisfeitos. Os exemplos históricos demonstram que, em épocas de desespero, as pessoas precisam de acreditar em algo que as faça continuar a lutar. Contudo, nem todas as ideias, ainda que ditas de forma empolgada são boas e, da mesma forma, nem todos visam o bem comum.
Talvez importe, a este título, relembrar que Hitler foi eleito, com a ajuda de democratas. É certo que tal sucedeu não por o mesmo dizer que iria gasear judeus e ciganos mas apesar de dar a entender que o faria. O resultado foi o que se conheceu e, desses tempos, as únicas vítimas não foram os gaseados e os que conseguiram sobreviver. Foi toda a humanidade.
Para os que relevam pequenos tiques ditatoriais, visando com isso apenas chegar ao poder, não se pode deixar de referir que lhes baterá a chancela da cumplicidade, mesmo quando num primeiro momento possam pensar estar a ganhar a guerra (aliás, como sucedeu a Hitler…).
Resistir às serpentes – e são várias – já não basta. Há momentos em que o problema atinge uma dimensão tal que a única via é destruir o ovo. Porque, citando o poeta (e esquecendo o político…) entre nós, houve sempre alguém capaz de dizer: não!
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.