Nas quatro décadas que leva a democracia constitucional portuguesa, os segundos mandamentos têm sido momentos de grande desilusão política e reveladores do cansaço e desgaste dos partidos que lideram a governação.

Mesmo em situação de maioria absoluta, como foi o terceiro mandato de Cavaco Silva em 1991, os governos que tiveram a oportunidade de um segundo mandato alcançaram um exercício pobre, acidentado e decadente, como foi o caso do governo socialista minoritário de António Guterres e, principalmente, o segundo exercício de José Sócrates, que dirigiu vertiginosamente o país para a inevitabilidade da ajuda externa, do défice em dimensão ingovernável e de resultados infelizmente conhecidos.

Guterres declararia o seu mandato como um pântano e sairia dignamente da cena política portuguesa, iniciando uma carreira internacional que engrandece o país. Sócrates saiu vergado pela incapacidade governativa, rodeado de profunda polémica e sem deixar saudades. Os restantes governos liderados pelo PSD nunca se encontraram em situação de prosseguir a governação. Pedro Passos Coelho, apesar de ter ganhado as eleições e tendo ensaiado continuar, viu o executivo abatido pela maioria de esquerda que deu origem à geringonça.

Aproximando-se agora a óbvia formação de um novo governo com as eleições legislativas, as expectativas não podem ser muito positivas. O cansaço é visível em muitos membros do executivo, desgastados após um mandato de quatro anos. E preparam-se seguramente promoções de secretários de Estado, com a justificação de que Portugal terá a presidência do Conselho da União Europeia no primeiro semestre de 2021.

O cenário que se apresenta ao país é pois exigente e preocupante. No próximo quadriénio teremos ações de grande envergadura, pois ocorrem as jornadas mundiais da juventude com a visita do Papa, as eleições autárquicas na segunda metade de 2021, antecedidas pela eleição presidencial em janeiro. Para tanto será relevante dispor de um primeiro-ministro robusto que seja capaz de dirigir uma equipa coesa, fresca e consciente dos desafios relevantes que se colocam. E não alguém que suspire para que o tempo passe, ou encare o cargo como mero passatempo, até poder abraçar outro desafio que entretanto se afigure mais estimulante.

Os segundos mandatos têm demonstrado constituir uma desilusão face ao anterior, mesmo quando estes foram apreciados. Mas mais do que isso, estes desempenhos têm representado um retrocesso para o país. Daí que ao decidir o voto, o eleitor não deve apenas olhar para um passado próximo ou tomar uma decisão precipitada pelo último soundbyte.

Além dos programas, as escolhas devem ter em consideração quem serão os protagonistas para julgar a capacidade de realizar as propostas em cada área e serem julgadas por elas. Não se deve levar a julgamento político o candidato a primeiro-ministro, mas todos os que exerceram o poder e demostraram inabilidade política e os que se propõem para o futuro. O líder é responsável mas apenas a ponta do icebergue da equipa. Ninguém dirige um país sozinho. Não há super-homens ou super-mulheres.

Além dos desafios globais do país e da adoção das medidas propostas nos programas eleitorais, o próximo governo tem de demonstrar a ambição de melhorar o país. Este governo e os partidos que o apoiaram durante quatro anos não demonstraram ambição, apenas a reposição de situações anteriores mas nada trouxe de novo ao país ou moderno à sociedade portuguesa.

E o proposto primeiro-ministro de continuidade até agora não demonstra ambição, antes o contrário. Até ao pântano.