Portugal liderou em 2018 a lista de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com maior número de mulheres a frequentar o ensino superior nos designados cursos STEM (Ciências, Tecnologias, Engenharia e Matemática) e com ambição de carreira nestas áreas.
Segundo as contas da OCDE, são já 57% as mulheres a estudar estas matérias nas universidades nacionais. A percentagem supera em muito a média de 39% apurada entre os países da OCDE. Mas a análise destes números está longe de ser linear.
Comprovou-se isso durante o DevOps Day no Parque das Nações, uma conferência organizada pela tecnológica Claranet que dá destaque a alguns dos temas no universo de DevOps, como Cloud, Containers, Serverless, Data, CD/CI, Infra as Code. A lista de oradores era composta por 10 especialistas da área, sendo que apenas um deles era mulher.
Ana Raquel Teixeira, de 31 anos, começou a carreira a trabalhar na ITEN, uma empresa no setor que foi adquirida pela Claranet em 2017. Hoje, a jovem é cloud customer success manager do grupo britânico e durante a cimeira falou do seu papel enquanto scrum master – aquela que garante sempre que haja um ambiente adequado para trabalhar de forma eficiente, implementando processos de melhoria contínua.
Quando questionada pelo Jornal Económico sobre como fora a experiência de ser uma das oradoras, Ana Raquel admitiu ter sido ”assustador”. ”Nunca falei para mais de 15 pessoas e foi sempre em contexto de workshop. Foi a primeira vez que estive com tantas pessoas à frente e foi complicado gerir a ansiedade no palco, mas entretanto depois deixei a coisa fluir e senti-me mais confortável”, explicou.
A disparidade de género também foi sentida no público. Grande parte dos participantes era homens, não deixando grande espaço para as mulheres do setor. “É normal haver poucas mulheres neste tipo de evento, mas sinto que tem vindo a melhorar”, confessou. ”Dentro da Claranet também se sente: há muitos mais homens que mulheres e acontece muito no mundo tecnológico”. Contudo, é uma realidade que tem vindo a mudar: na edição de 2018 do índice “Women in Tech“, Portugal é considerado o país que dá mais oportunidades às mulheres na área da tecnologia. No entanto, a percentagem não é impressionante: as mulheres ocupam apenas 16,08% dos empregos.
As conclusões dos dois trabalhos revelam que a desigualdade de género continua a ser uma realidade na maioria dos países, em todas as áreas sócio-económicas, com mais mulheres a seguir estudos superiores mas tendo bastante menos oportunidades de carreira do que os homens e com as diferenças salariais entre géneros para o mesmo tipo de trabalho a persistirem.
Mas há motivos para celebrar. Não só o país está a conseguir atrair um número crescente de mulheres para cursos de grande empregabilidade e que antes eram reconhecidos como “tipicamente masculinos”, caminhando para a tão desejada paridade de géneros, como se encontra em primeiro lugar da lista, empurrando para o meio da tabela países como os Estados Unidos, Alemanha ou França. ”Sinto que tem havido uma preocupação em quererem adquirir perfis distintos e não tão técnicos. Sinto que há uma maior preocupação em querer recrutar mulheres mais técnicas. Apesar de ainda ser um número pequeno, já existem mais mulheres a escolher essa vertente [tecnológica] no ensino superior”, argumentou a oradora.
Durante a conversa, ponderou-se se a falta de mulheres na empresa afeta o trabalho enquanto cloud customer success manager, mas Ana Raquel negou peremptoriamente. “Não. Nunca senti”, assegurou. “Sinto que há uma dinâmica diferente quando trabalhamos num ambiente com muitos homens mas não pelo lado negativo. Acho que são muito mais descontraídos e não se preocupam com certos detalhes que as mulheres normalmente se preocupam e que às vezes podem fazer a diferença. Mas, ainda assim, sinto que o papel da mulher é extremamente relevante numa empresa ou equipa com muitos homens”, explicou.
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