Em abril de 2021, Brett Smith, Diretor do Laboratório de Investigação L.I.F.E. – Leading the Integration of Faith and Entrepreneurship na Universidade de Miami em Ohio organizou a primeira conferência internacional de investigação sobre o papel da religião na gestão. A conferência contou com 32 oradores convidados, na sua maioria professores de gestão em universidades americanas e canadianas. A principal motivação para a realização da conferência foi a constatação de que o estudo científico da gestão raramente tem em conta a religião dos empreendedores, dos gestores e dos investidores.
Em julho de 2021, o Journal of Business Venturing publicou um artigo de Brett Smith, Jeffery McMullen e Melissa Cardon, no qual propõem uma viragem teológica (theological turn) na justificação teórica da gestão até aqui dominada pela teoria económica. Em particular, argumentam que a teoria económica assente em conceitos tais como o materialismo, o interesse próprio e a racionalidade, é insuficiente para explicar fenómenos de gestão motivada pela espiritualidade, pelo altruísmo e por emoções tais como a empatia.
Os autores enumeram também quatro razões pelas quais faz sentido estudar o papel da religião na gestão: prevalência, centralidade, cientificidade e relevância. De acordo com o Pew Research Center em Washington, em 2010 mais de 80% da população mundial considerava-se religiosa, incluindo 32% de cristãos, 23% de muçulmanos, 16% de hindus e 7% de budistas. A religião é, portanto, um fenómeno prevalente na sociedade, incluindo a gestão. Além disso, para muitos crentes a religião não é apenas uma influência no seu dia a dia, mas um dos principais fatores de decisão, tornando-a central nas suas vidas. Por outro lado, os estudos de Max Weber em sociologia da religião, de Kenneth Pargament em psicologia da religião e de Laurence Iannacone em economia da religião, entre outros, demonstram que é possível estudar o papel da religião na gestão com rigor científico. Finalmente, a religião na gestão é um tema empiricamente relevante pela existência de fenómenos tais como ecossistemas locais de empreendedores, gestores e investidores movidos por uma religião em comum. Em Portugal, por exemplo, foi constituída em 1952 a ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores.
Que podemos então esperar do estudo científico da religião na gestão? Em particular, a resposta a questões de investigação tais como as que enumero de seguida: 1. Até que ponto é que a sua religião influenciou a sua decisão de se tornar empresário ou gestor? 2. Até que ponto é que a sua religião o leva a tomar decisões na gestão corrente da sua empresa que transcendem a racionalidade económica tal como a maximização do lucro? 3. Até que ponto é que a partilha da sua religião com os seus colegas de trabalho tem consequências para si e para os outros? 4. Até que ponto é que a sua religião o ajuda a lidar com a ansiedade profissional do dia-a-dia? 5. Até que ponto é que a sua religião o ajuda a aceitar o insucesso profissional tal como ser despedido ou ir à falência? 6. Até que ponto é que a sua religião influencia a sua assunção de responsabilidades face aos outros quando algo corre mal no seu trabalho? 7. Até que ponto é que a sua religião influencia a sua visão de longo prazo, incluindo a vida eterna? 8. Até que ponto é que a sua participação numa comunidade religiosa o ajudou na sua vida profissional? e 9. Até que ponto é que a sua religião influencia o equilíbrio entre o seu trabalho e a sua família?