Transformação digital é hoje expressão corrente em qualquer empresa para indiciar algo que está a acontecer, ou, se ainda não está, é certo que vai acontecer, e que provoca alteração em tudo aquilo que hoje a carateriza.

Muitos não sabem exatamente como vai ser na sua empresa, e até demonstram medo ou receio. Todos nós já ouvimos que daqui a uns anos muitas das empresas que hoje existem já não existirão. Ou então, que as mais altas capitalizações bolsistas são hoje de empresas tecnológicas. Ou que para vender serviços de transporte ou de estadia não é preciso veículos ou hotéis. Todos sabemos que não podemos fugir ao processo.

Sendo a preocupação máxima do Conselho de Administração assegurar a sustentabilidade futura da sociedade, é seu dever preocupar-se e questionar-se: qual o efeito atual e futuro da transformação digital na minha empresa? Qual o meu papel, ainda que não executivo, no processo? Como avalio a estratégia que está a ser executada? Como avalio e controlo os (normalmente fortes) investimentos? Como estão prevenidos os maiores riscos?

Assiste-se, já, a passos mais ou menos alargados rumo à transformação digital, dependendo, principalmente, do setor e mercado em que a empresa se coloca, e também da legacy que acompanha o seu negócio tradicional. Quanto mais pesada esta for, mais difícil será o processo.

Os planos de transformação digital em movimento são geralmente acompanhados por consultoras com forte know-how em estratégia tecnológica que, como vemos, há agora em muito maior oferta. Cabe aos administradores, mesmo aos não executivos, assegurar que no processo de seleção da consultora foi tomado em consideração o nível de conhecimento das potencialidades tecnológicas que a equipa demonstra, mas também conhecimento do setor, experiência em acompanhamento de processos de transformação em peers nacionais e não nacionais e diversidade de qualificações profissionais.

São obviamente necessários engenheiros, mas haverá necessidades de outras competências como gestão estratégica, avaliação de investimentos e negócios, gestão de pessoas ou ciências da comunicação?

É importante assegurar a total integração entre as equipas da nossa empresa e os consultores. Um dia vamos viver sem eles. Os nossos quadros estão suficientemente envolvidos e demonstram conhecimento bastante, acompanhamento permanente, autonomia? Acreditam no projeto? Qual o grau de dependência futura em relação aos consultores?

Os administradores devem ser conhecedores dos fatores que motivaram os casos de sucesso em planos de transformação digital já implementados em empresas nacionais e internacionais, e também os motivos que levaram ao insucesso.

Quais são os maiores riscos associados aos planos de transformação orgânicos quando comparados com transformação por aquisição de startups tecnológicas? O fomento de fábricas de ideias ou parcerias estratégicas tem funcionado bem em que setores? E a que nível estamos de cibersegurança? Somos certificados ou usamos as melhores práticas? Que caminho temos que percorrer para lá chegar?

Outro aspeto importante é não cair na tentação de dar maior importância ao plano tecnológico do que a outras áreas que, por si, podem ser responsáveis pelo sucesso ou falhanço total. As novidades tecnológicas não podem abafar as necessidades de preparação e formação de pessoas, a definição da estratégia de comunicação interna, a adequada calendarização das diferentes etapas.

O processo de integração tecnológica por transformação de processos e tarefas humanas exige comunicação, informação, pré-formação e alinhamento. Não esquecer também a definição da estratégia de comunicação ao exterior. Como lidar com comissões de trabalhadores, sindicatos e reguladores, como informar os fornecedores, que mensagem dar na estratégia de marketing?

Os desafios da transformação digital são bastantes e batem à porta das nossas empresas. Cabe aos membros do Conselho de Administração ir pulverizando a cultura digital, introduzindo-a em todas as agendas, acompanhando e monitorizando de forma sistemática todo o processo.