A inflação sempre foi, e sempre será, um tema sensível. Normalmente, associamos períodos de alta inflação a instabilidade social e a períodos de crise. Em 2022, como todos sabemos, foram registados níveis de inflação fora do comum em toda a zona euro e obviamente que Portugal não foi exceção, tendo em outubro do mesmo ano registado 10,1%. Fica então a questão para um milhão: como é que o Estado de bem-estar pode ser útil para combater a inflação?

É sabido que períodos de inflação se caracterizam por um aumento generalizado dos preços. A inflação está associada a dois componentes, a procura e a oferta. Existem vários fatores do lado da oferta, como o poder de mercado, interrupções no fornecimento ou custos de produção. E, do lado da procura, o aumento na propensão ao consumo ou mudanças na política monetária.

Alguns economistas tendem a dar mais importância ao lado da oferta para explicar a inflação, contudo, considero que todos os fatores devem ser analisados e compreendidos. Não devemos cair na ilusão de que só existe inflação devido às grandes empresas e que a solução passa por limitar “espirais de lucros”.

A realidade é que a inflação é um fenómeno bastante complexo que pode ser influenciado por variadíssimos fatores, ou seja, limitar lucros não aborda as causas fundamentais da mesma, bem como acaba por desencorajar o investimento e a inovação. E se, em alguns casos, as margens de lucro se encontram em patamares mais elevados após a queda durante a pandemia, como aponta o “The New York Times”, não deve ser este o principal foco, nem devemos responsabilizar, inteiramente, as grandes empresas pelos níveis de inflação.

Outro assunto frequentemente discutido é a política monetária, porém, essa responsabilidade recai sobre o Banco Central Europeu (BCE), limitando assim o poder de decisão de Portugal nesse aspeto. Não obstante, o BCE tem vido a ter um impacto positivo para Portugal, e o papel dos bancos centrais continua a ser crucial, principalmente em tempos de crise.

Então, afinal, o que é que os governos podem fazer para combater a inflação e minimizar consequências? E como é que o estado de bem-estar pode ser útil? Infelizmente, estamos dependentes de vários fatores, o que faz com que não se consiga dar uma resposta fechada. O que se pode ter como certo é que não é possível resolver os problemas do nosso país a curto prazo. Em termos de política social, esta deveria ser, regra geral, automática.

Acresce que a tributação excessiva também não é a resposta. Em vez disso, devíamos preocupar-nos em aumentar a oferta, diminuindo certas burocracias e permitindo que novas empresas apareçam e cresçam no mercado. Algumas medidas deste género têm sido implementadas nos últimos meses, tal como podemos ver no Diário da República, mas o nosso Governo não deve ficar só por aqui.

Ao que tudo indica o pior desta crise já passou, mas outras virão e temos de estar preparados. Para isso, precisamos de um Estado de bem-estar forte e capaz de responder aos problemas, o que só será possível com uma economia igualmente forte. Em suma, para combater a inflação de forma eficaz, é imprescindível apostar numa economia sólida. Neste sentido, aumentar os salários mínimos de forma desmesurada não é certamente a melhor aposta. Se queremos ver aumentos nos salários devemos, primeiro, garantir um aumento da produtividade e riqueza do país.

O Economia Viva é o maior ciclo de discussões económicas organizado por jovens economistas em Portugal. A 8ª edição decorreu no dia 21 de abril, na Nova SBE, e contou com a participação de Carlos Guimarães Pinto e Miguel Costa Matos, e moderação de Susana Peralta na quinta sessão, lançando o mote para o presente artigo. O debate estará disponível, em breve, nos canais oficiais do NEC.