Um recente anúncio de um particular publicado num site especializado em imobiliário anunciava a disponibilidade de um beliche num quarto, em Lisboa, por 180 euros! Ficamos a pensar na miséria social em que a cidade está envolvida. Desde logo porque, afinal, se multiplicarmos cinco beliches por quarto (onde todos estendem o braço e tocam no vizinho) concluímos que já temos quartos em Lisboa a quase mil euros/mês.

Mais. Nem sequer sabemos se se trata de rendas declaradas ou tudo em cash, ou melhor, passado por “baixo do colchão”. E, en passant, não sabemos até que ponto os 80 mil alojamentos locais declarados não são multiplicados por tantos outros não declarados, mas, claro, isso é um tema do fisco.

A questão do arrendamento é recorrente e está longe de resolvida e, diga-se em abono da verdade, este é o momento para se resolver. Contrariamente ao que se anda a espalhar, o imobiliário de habitação em Lisboa está parado – o mesmo é dizer que os preços são de tal forma elevados que o cidadão comum não compra e o proprietário ainda mantém a ideia de que o limite é o céu e não desce preços. Hoje, tudo na habitação leva meses – e em alguns casos vai levar anos – até ser vendido. O imobiliário residencial ainda mexe em cidades com universidades e na costa algarvia.

A solução mais recente encontrada pelo Governo para estabilizar o preço da habitação está em discussão pública e dá pelo nome de DHD, o acrónimo de Direito de Habitação Duradoura. O projeto conseguiu algo inédito: juntar as forças vivas do setor na rejeição da ideia! Os inquilinos, através de Romão Lavadinho, perguntam qual o real interesse em pagar 10% a 20% do valor da casa e ainda uma renda vitalícia, quando não ficam com o imóvel no final, a par do IMI, taxas municipais, seguros, condomínio e obras. Os proprietários, através de Frias Marques, questionam a necessidade de se criar um instrumento que interessa aos fundos de investimento imobiliários e não ao pequeno senhorio. É caso para dizer que estamos “entregues aos bichos”.

Mais. Fevereiro foi o mês de subida da taxa de juro média dos novos contratos de crédito à habitação, diz o INE, e os números não mentem pois o juro implícito de fevereiro é o mais elevado de há três anos. Isto é um sinal pequenino daquilo que será o brutal impacto da futura política monetária do Banco Central Europeu quando sinalizar a subida de juros. A nossa sorte em 2019 é termos eleições e, por isso, haverá passes sociais para a mobilidade “à antiga francesa”. Voltaremos à realidade em 2020.

Contentes continuam a estar os inquilinos e os proprietários isentos de IMI e de IRS, benefícios a que teoricamente todos teremos acesso desde que alteremos a nacionalidade no Cartão de Cidadão. Enquanto o CC for luso haverá o inferno fiscal, com impostos e taxas, penalização de reformas antecipadas e zero prémios para quem trabalhe até tarde.