O Partido Socialista (PS) comemora o bonito aniversário dos 50 anos. Foi fundado na cidade alemã de Bad Münstereifel, antes do “25 de Abril”, e duvido que os seus fundadores pensassem alguma vez que o partido se iria eternizar desta maneira na governação e, sobretudo, se enraizasse no aparelho do Estado. É tempo para nos questionarmos se este é o peso dos 50 anos ou o “amargo de boca” de Mário Soares.

O mais grave, e que trai o espírito dos fundadores, são os inúmeros casos a assolar este Governo e, em particular, por mais chocante, o tema da TAP. O caso voltou esta semana a conhecer novos desenvolvimentos, com a libertação de informação confidencial, o que já de si é muito grave, sobre o processo de despedimento por justa causa do antigo chairman, Manuel Beja, e da CEO, Christine Ourmières-Widener.

Os argumentos que o Governo invoca podem até, na sua ótica, justificar a decisão, mas parece-nos difícil de provar em tribunal, dado os factos apurados em sede de comissão de inquérito e o despedimento ao vivo da CEO, e, sobretudo, o passar de culpas entre membros do Governo que estão apenas e tão-só interessados na sucessão de António Costa e na conquista do poder interno.

O tema mais recente da fundamentação jurídica para a “justa causa” de despedimento ameaça assim ensombrar ainda mais o Governo, inclusive com dúvidas de deputados sobre a existência do documento. Mas a procissão ainda vai no adro, porque Fernando Medina, o ministro das Finanças, está a mexer-se e a aproveitar o facto de Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas, estar a preparar o seu regresso, até como comentador de TV.

E, claro, o previsível regresso do antigo ministro das Infraestruturas à política ativa promete lançar o caos na vida política portuguesa, com ministros e ex-ministros furiosamente a disputarem o poder, as benesses e os lugares na administração pública que alegremente distribuem entre amigos, familiares e até cônjuges.

Esta ganância de poder trará consequências, e os portugueses já o demonstraram nas sondagens. Dizem os dados recolhidos que os portugueses estão a querer mudanças.

Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República, vai fazer as consultas que tem de fazer. Há eleições europeias para o ano, mas a verdade é que neste momento só se fala de dissolução e eleições antecipadas, e estas podem acontecer quando menos se espera.

Marcelo está cauteloso e assim vai continuar. Esta não é uma opção a ser tomada de forma leviana, até porque, em termos económicos, o país não está em condições de parar com os projetos que decorrem dos fundos do PRR, nem em condições sociais para meses de campanha eleitoral e paragem de todas as decisões.

Os níveis de inflação continuam elevados, os juros dos créditos hipotecários asfixiam as famílias e está a arrancar mais um ano de turismo, que tem todas as condições para resultar num novo recorde de visitas, dormidas e encaixe financeiro na indústria.

Entretanto, Luís Montenegro, o líder do PSD, finalmente chegou a Lisboa depois de uma longa volta pelo país. Agora terá de encontrar um modelo de colaboração ativa com os outros partidos do centro-direita, em especial com o Chega. O próximo Governo dificilmente se fará com um PSD, uma Iniciativa Liberal e um CDS, por isso, a normalização do Chega está na ordem do dia, embora ninguém o admita.