É consensual que políticas monetárias expansionistas com liquidez abundante e taxas de juro baixas são favoráveis aos mercados financeiros e ajudam a explicar, de forma decisiva, o espetacular bull market que se iniciou com a crise financeira de 2008. Na mesma lógica, a luta contra a inflação que tem levado os bancos centrais a subirem as taxas de juro e, em alguns casos, a reduzirem o seu balanço, provocou uma queda considerável nas ações e obrigações desde o início deste ano.
É por este motivo que há muitos meses os mercados aguardam pelo “pivô da Fed”, ou seja, o momento em que a Reserva Federal norte-americana comunicará ao mercado que fará uma inflexão na política monetária, passando de mais restritiva a mais expansionista, o que promoveria novas valorizações no mercado.
O facto de a inflação nos Estados Unidos ter ficado abaixo do esperado em outubro gerou grande animação nos mercados financeiros, com as bolsas a recuperarem de forma muito significativa, interpretando os dados como um sinal de que o topo na inflação está feito e que as subidas de taxa de juro estarão perto do seu final. Cansado de esperar pelo “pivô da Fed”, o mercado resolveu antecipar essa mudança na política monetária.
O problema é que os responsáveis dos bancos centrais não estão ainda a caucionar esta interpretação e têm reforçado que a inflação ainda não está controlada e que será preciso subir mais os juros.
Em todo o caso, é razoável esperar que as taxas de juro deixem de subir no próximo semestre. Espera-se que o final do ciclo de subidas de taxas pela Fed ocorra entre os 4,75% e os 5,25% e, no caso do Banco Central Europeu, a taxa de referência máxima será provavelmente entre 2,75% e 3,25%. Em termos de Euribor a 12 meses, significará um máximo abaixo de 3,5% (provavelmente abaixo de 3,25%). Se tivermos em conta que este ano essa referência já subiu de -0,5% para os atuais 2,85%, a maior parte da alta dos juros já aconteceu.