Os grandes cataclismos mundiais têm conhecido grandes respostas. Após a Segunda Guerra mundial, os Estados Unidos puseram em prática o plano Marshall, estimulando as economias ocidentais e garantindo assim mercados para as suas exportações.
O sucesso deste plano foi incontestável, culminando em um dos períodos mais dinâmicos do crescimento ocidental. Os EUA puderam aumentar a sua influência, fomentando sob a sua hegemonia o desenvolvimento de instituições internacionais como o FMI, ou o Banco Mundial, que são até à atualidade veículos da globalização, ditando os destinos económicos das nações. A sua liderança mundial ainda é em muito o resultado e a continuação, sob outras formas, desta estratégia.
A pandemia, uma ameaça exógena global, tem sobre as relações internacionais o mesmo tipo de efeito de uma guerra mundial. Ao ameaçar vidas e destruir dinâmicas económicas e sociais, afetando diferentes nações em simultâneo, impõe uma resposta global, sendo o desafio presente conseguir identificá-la e pô-la em prática.
Os primeiros sinais parecem surgir do mesmo lado do Atlântico, consolidando-se em medidas como o imposto único sobre os lucros das empresas, o megaprojeto de infraestruturas para fazer frente à Rota da Seda chinesa e até a renegociação dos impostos sobre o alumínio e o aço, com a União Europeia. Com uma dimensão mais política tout court, há ainda o sentar à mesa com Vladimir Putin. No entanto, a proposta mais importante e impactante terá sido, sem dúvida, promover a vacinação das populações de países com menos recursos.
Revestindo-se de um forte matiz humanitário, esta medida é, no entanto, extremamente decisiva do ponto de vista económico. As variantes do SARS-CoV-2, tantas vezes divulgadas como inglesa, indiana, nepalesa, sem esquecer a pejorativa referência ao vírus chinês, não deixam margem para dúvidas: o problema que temos em mãos é global. A pandemia não se resolve atuando como se os problemas fossem um somatório de epidemias nacionais que cada país debela com o seu plano de vacinação interno.
O revés recente no plano de desconfinamento português é disso mesmo uma expressão – malgrado o avanço do plano de vacinação nacional, o regresso da atividade económica é novamente bloqueado por questões sanitárias que decorrem do nosso grau de abertura ao e dependência do exterior.
Como no pós-guerra, a recuperação económica exige a retoma da procura, que incitará o normal funcionamento dos mercados, o que só será possível se se restabelecer a confiança nas relações internacionais. No atual contexto tal é sinónimo de vacinação alargada à escala mundial, sem a qual se correrá infindavelmente o risco de regressar à estaca zero.
Os EUA querem claramente repor a sua liderança, indicando o caminho que é necessário percorrer para a recuperação. Requer-se agora que haja convergência internacional para que as intenções possam ir além da conversa e do papel.