Num tempo em que o termo “fake news” entrou no vocabulário da atualidade, vale a pena recordar que a comunicação social sempre foi um espaço de exercício e disputa do poder, com as suas histórias parciais, as narrativas e palavras que interessam a quem tem poder, o maior ou menor acesso que proporciona às diferentes perspetivas.
Mesmo que todos os temas fossem tratados de uma forma isenta e equilibrada, dando espaço a diferentes versões ou narrativas dos acontecimentos, haveria sempre formas de influenciar e condicionar a opinião pública.
A definição das agendas mediáticas é uma dessas formas, o condicionamento que advém da seleção dos assuntos. Há assuntos que são abordados e outros que não são. Se um assunto é abordado e noticiado mais frequentemente e com mais relevo, o público é levado a pensar que é mais importante do que outros.
A Teoria do Agendamento (proposta por Maxwell McCombs e Donald Shaw em 1972) está bem suportada na literatura científica. A comunicação social não determina necessariamente o que as pessoas pensam sobre um assunto, mas leva-as a pensar em determinados assuntos em detrimento de outros. E isso faz toda a diferença.
O que é abordado e o que é ocultado nas agendas mediáticas? Quantas polémicas sem real interesse público já captaram energias e atenções em detrimento de assuntos mais relevantes? Em períodos eleitorais, a seleção dos temas poderá ser decisiva para os resultados. Os órgãos de comunicação social ao levantarem certas questões, ou simplesmente mostrando interesse num candidato ou assunto particular, podem contribuir decisivamente para os resultados eleitorais.
Agora que estamos a terminar a chamada “silly season” (que também é uma criação comunicacional) e em vésperas de eleições legislativas, é bom que nos preparemos e fiquemos alerta.
Uma cidadania informada e esclarecida não se pode basear apenas no consumismo noticioso. É necessário procurar fontes alternativas, comparar versões e narrativas, ouvir e ler diferentes opiniões, realizar o esforço de leituras mais profundas e refletir. É necessário algum esforço e tempo, um bem escasso no mundo hiperestimulante atual. Mas é um esforço e tempo que compensam a nível individual e coletivo.