O discurso de Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, na passada semana, ainda que sem o dramatismo dos grandes discursos de Winston Churchill e desprovido das certezas inabaláveis de Mario Draghi, tem profundas implicações para os bancos e para as pequenas economias, como é o caso da portuguesa.

Powell sinalizou uma dupla subida das taxas de juro diretoras em 2023, quase um ano antes do estimado pelos analistas até há uma semana atrás. Uma subida ínfima, notarão alguns observadores, mas ainda assim uma subida que não foi antecipada. Subida essa que ocorrerá com a possibilidade de a inflação, nos Estados Unidos e na União Europeia, ser mais alta que o antecipado e a recuperação económica mais forte, com isso pressionando no sentido da retirada, paulatina, dos programas de compras de ativos.

Um pouco por todo o mundo, os bancos têm vindo a normalizar a sua política de provisões, ajustando-as em montantes similares ao estádio prévio à pandemia. Uma normalização que tem vindo a libertar parte das vultuosas provisões que tinham constituído.

A subida das yields das obrigações dos Tesouros e das taxas diretoras, por um lado, e a normalização das políticas de provisões, por outro, são boas notícias para os bancos, nomeadamente os europeus, duramente fustigados por taxas negativas. Aliás, um primeiro reflexo disso têm sido as intensas valorizações acionistas, ocorridas desde meados de abril.

Há, portanto, alterações em curso que são boas notícias para os bancos cujos centros de decisão se situam em Portugal. E são boas notícias extensíveis à economia portuguesa no seu todo, pois em conjunto significam que, por fim, se interrompe o processo de destruição de capital ou de baixa rendibilidade dos bancos, tornando-os mais disponíveis para o pleno exercício da função creditícia.

Se isto não bastasse, o normal funcionamento dos preços do mercado do dinheiro (juros) produz um reforço da capacidade de aforro, viabiliza o exercício de poupanças de longo prazo e de sistemas de capitalização de previdência, e uma melhor afetação de recursos no mercado de crédito. Mais boas notícias, portanto.

Não deixa de ser irónico, contudo, que a valorização de quase 30% no valor das ações dos bancos não tenha que ver com exercícios de eficácia (produtos ou serviços inovadores, por exemplo) ou de otimização de eficiência, mas mais, muito mais, derivada do discurso de Jerome Powell, da campanha de vacinação e de normalização económica.