O painel “PODER de INSPIRAR – CALL TO ACTION” reuniu três figuras de referência nas suas áreas: Suzana Viseu, Presidente da Business as Nature (área da sustentabilidade); Daniela Braga, Fundadora e CEO da Defined.ai (área da Inteligência Artificial); e Kênia Gama, Fundadora do projeto “Mulher Brilhante” (área do empreendedorismo).
Suzana Viseu salienta que todos os indicadores e relatórios científicos apontam para o perigo das alterações climáticas e da velocidade que essa mudança está a ocorrer, com consequências não apenas para o ambiente, mas também ao nível social, incluindo implicações nos movimentos de refugiados, e ao nível económico, com o esgotamento de recursos.
“Temos de alterar o paradigma de desenvolvimento”, defende Suzana Viseu para quem na medição do PIB deverá estar “a valorização do que é a capital natural, a preservação dos ecossistemas (água, biodiversidade)” .
“Temos a tendência de olhar para EUA e Europa e tendemos a esquecer que há outros países que estão a diferentes ritmos. Não precisamos de ser eco-fundamentalistas, mas temos de perceber que isto é um problema de todos. E que este problema tem de se resolver com todos”.
Esta especialista em sustentabilidade, refere que este assunto também é “responsabilidade nossa, nas opções de consumo” e nesse prisma, Suzana Viseu diz que a própria ONU reconhece que “não há alteração climática sem o envolvimento da mulher, por serem as mulheres que estão na linha da frente da resposta e do que é o seu ADN do cuidar daqueles que são os seus próximos”.
A ONG que criou tem, de resto, como missão “motivar e catalisar a ação das mulheres pela sustentabilidade” num movimento que deve “reunir homens e mulheres”.
“Sem o envolvimento das mulheres, o que tem de ser feito em termos de transição energética não será conseguido, entende Suzana Viseu, que trouxe à plateia a informação de que em 85% dos casos são as mulheres que tem a opção de compra, pelo que sem elas, o que é preciso mudar, não será mudado.
“Não vai acontecer sem envolvermos as mulheres, se queremos mudar as coisas”, conclui a Presidente da Business as Nature.
Daniela Braga, Fundadora e CEO da Defined.ai, abordou um dos temas mais quentes da atualidade, a questão da Inteligência Artificial que, embora exista há meio século, foi nas duas últimas duas décadas que ganhou um ímpeto único, especialmente ainda nos mais recentes anos.
Segundo Daniela Braga, a capacidade de automação e de IA atual equivale a termos uma enorme “quantidade de cérebros juntos nunca antes vistos”.
Falando do badalado Chat GPT, esta especialista em IA reconhecida internacionalmente, não hesita em considerar que “chegamos àquele ponto em que a evolução da AI era só prevista para daqui a 10 ou 20 anos”.
A responsável da Defined.ai diz mesmo que no nível em que a AI se encontra já, “está ao nível da capacidade intelectual humana”.
“De repente acordamos e os computadores pensam mais do que nós”, refere esta especialista.
Porém, adverte Daniela Braga, “com esta aceleração, há uma falta de preparação do mundo no seu todo para lidar com estas tecnologias”.
Daniela Braga aponta que, neste mundo novo que se ergue, há uma clivagem enorme entre países mais adiantados neste tipo de tecnologias, como EUA e a China, e outros menos adiantados: “De repente, o mundo é apanhado numa nova indústria 5.0 e é preciso evitar esta clivagem e também criar estratégias nacionais para acompanhar esta evolução”.
Para Daniela Braga, um dos desafios é “fazer investimentos certos e ajustados à economia que cada país tem” e “trazer as pessoas para o centro da mesa” das conversas.
Sendo o setor privado, aquele que historicamente mais investe neste setor, Daniela Braga afirma, com base na sua experiência e dando o exemplo do Chat GPT “que uso todos os dias”, trata-se de uma tecnologia feita por homens: “Toda a leadership em IA é feita por homens”, sublinha a responsável da Defined.ai que diz que os dados nos quais o Chat GPT são treinados correspondem a concetualizações enviesadas que levam a que se tende a generalizar a informação em torno de homem, branco, deixando de fora tudo o que é diversidade, de género, sexual e outra: “Temos esse problema”, diz.
Daniela Braga, que defende uma certificação na AI, uma espécie de “nutrition label” para a AI, considera que é importante salvaguardar os direitos de autor no uso da AI: “Se isso não for assim, vamos entender que os dados não são pagos, não são consentidos e os conteúdos são criados sem respeito de copyright”.
Daniela Braga indica também que a Defined.ai está a trabalhar em vários papers relacionados com a exploração do chamado Primeiro Mundo em relação ao Terceiro Mundo em relação à certificação de dados utilizados por ferramentas de AI.
Possibilidade em vez de probabilidade
Kênia Gama criou um dos maiores movimentos femininos brasileiros, o projeto “Mulher Brilhante”, e a sua visão é de que é imperativo mudar a forma de pensar, abandonando as probabilidades e abraçando as possibilidades.
Kênia Braga explicou o seu ponto de vista: “A probabilidade de uma mulher ocupar um cargo de nível C é ainda visto como baixa, ainda que esteja a aumentar. Essa probabilidade está associada ao género, ao local de nascimento, entre outras variáveis. E tendemos a colocar o nosso futuro com base nas probabilidades. Mas temos de mudar as probabilidades para as possibilidades. Esse é o poder do agora”.
E Kênia deu até o seu próprio exemplo, afirmando que “eu sou uma improvável, pois vim de uma família humilde, engravidei aos 17 anis e jamais alguém diria que eu daria uma escritora best Zeller”.
“Eu costumo dizer que, no mundo, se houver uma chance no milhão, eu serei essa chance”, incentiva esta empreendedora que diz que no Brasil, metade dos 60 milhões de empreendedores são mulheres” e dessas 30 milhões, “três milhões foram alcançados por nós”.
“As mulheres são a força motriz dos trabalhos” e “no Brasil a força motriz da mulher é muito forte”, complementa Kênia Braga que diz que o movimento que procura promover insiste na tecla de que “as mulheres devem pensar grande e pensar em serem empresárias” e donas dos seus negócios e projetos e de “querer construir uma equipa”.
“Foi, no fundo, um percurso que eu próprio fiz. Eu ganhava 1,50 euros/hora dando aulas de espanhol. Quando um filho nasce, nasce uma empreendedora”.