A Venezuela vive um dos momentos mais conturbados da sua história.  Há população na rua a manifestar-se há mais de três meses. A acompanhar essas manifestações outras expressões de desagrado: pilhagem de lojas e ataques a unidades produtivas. Não raro existem confrontos entre população, polícia e militares, como também entre fações de manifestantes. Quase todos os dias chegam relatos de mortos durante as manifestações.

Podemos questionar-nos como aguenta um país mais de uma centena de dias em convulsão, com o aparelho produtivo comprometido e o seu mercado interno estagnado, com violência social e política nas ruas. Também nos devemos perguntar quanto falta para que a violência se torne incontrolável e uma guerra civil venha a despontar.

Apesar da violência discursiva, os líderes políticos parecem conter o confronto violento, apesar da ameaça do seu uso estar permanentemente presente nas suas palavras. Incrementam o conflito pelo discurso, mas não pelas armas. Contudo, não se consegue saber até quando. O mais plausível é que este controlo subsista enquanto ambas partes acreditarem que existe uma saída com sucesso para o seu lado.

Internacionalmente, levantam-se vozes no sentido de pressionar o regime de Nicolás Maduro a aceitar as reivindicações da oposição. As sanções económicas, uma das ferramentas negativas da diplomacia económica, são um dos instrumentos em ponderação. Em Portugal, lamenta-se a falta de posição firme relativamente ao regime de Maduro e a ausência de um debate sobre sanções. Mas não se escreve nem fala sobre os milhares de portugueses e luso-descendentes residentes neste país e nos interesses económicos que essas mesmas pessoas ainda têm naquele território.

Igualmente parece não se querer perceber que uma saída não negociada entre os oponentes e que garanta que todos saem com face, pode degenerar num conflito interno incontrolável. A única solução para um problema que se vai arrastar enquanto as partes e seus aliados internacionais estiverem dispostos a alimentar o confronto, por enquanto verbal, é a negociação. Mas o nível a que chegou a confrontação já dificilmente permitirá que os mecanismos de reequilíbrio político e social, como as eleições, cheguem para serenar os ânimos.

A Venezuela vive uma crise profunda, com problemas estruturais no seu tecido produtivo e comercial e uma inflação galopante. Uma mudança de poder não assegurará de imediato a solução dos problemas e correr-se-á o risco de, novamente, ter pessoas na rua. Para que haja uma solução tem de haver uma perspetiva de “salvação nacional”, ou seja, de garante que os resultados de uma eleição serão aceites e para tal tem de haver uma negociação prévia ao escrutínio. Se assim não for, o poder vencedor tenderá a perseguir e esmagar o poder vencido.

Não basta pressionar Maduro. Há que fazer o mais difícil, sentá-lo numa mesa de negociações, frente ao seu oponente. O governo português tem razão: a Venezuela, tal como a conhecemos, sobreviverá – se houver um esforço internacional no sentido da negociação.