Comecei a tomar notas para este artigo momentos antes da crise do coronavírus se ter abatido sobre os portugueses. O que então escrevi veio logo a seguir a ser confirmado pela tardia e atabalhoada resposta do Estado e do Governo à crise.

Escrevi no dia 8 de março: os portugueses estão muito mais à frente que a esmagadora maioria dos políticos. Há um grande fosso e um mismatch de conhecimento e sobretudo de capacidade de julgar estrategicamente o que é melhor para Portugal e para os portugueses.

O maior desafio perante Portugal e o mundo são as alterações climáticas, o que requer largueza de vista em diplomacia, invenção e aplicação de tecnologia, segundo “The Atlantic” (o vírus ainda não tinha chegado aos EUA quando eles escreveram isto).

A corrupção corrompeu o contrato social. Já não é uma questão de haver ou não confiança. É uma questão de permanente desconfiança sobre as agendas secretas e as verdadeiras motivações pessoais de muitos políticos.

É absolutamente impossível desenhar e aplicar estratégias a todos os níveis de decisão porque colidem com interesses mesquinhos imediatos e invejosos, táticas e esquemas, que não têm de modo algum em consideração o bem comum, a felicidade dos cidadãos, em suma, o interesse nacional.

Assim se afunda Portugal, e com o país todos os portugueses indefesos, que são a esmagadora maioria, perante a anarquia destrutiva. É preciso readquirir um modelo mental, como diz Joe Biden, para praticar o Bem. É imperioso que o nosso Presidente da República fale com voz forte e ponha ordem na casa.

Portugal é “governado” por muitos amadores presunçosos. Não sabem de política, nem de fundamentos de gestão e economia, nem de comunicação, nem de relações internacionais, nem de administração pública moderna.

Uma catástrofe gravíssima, inadmissível. Por isso, aprendizes de política, vos aconselho: 1) Estudem; 2) Sejam humildes; 3) Deixem os portugueses trabalhar e ganhar dinheiro; 4) Organizem-se.

A Internet mudou tudo, ainda não perceberam? O conhecimento, comunicação, a formação de opinião pública agora está ao alcance de todos, as relações de poder estão a mudar para os cidadãos. Os portugueses todos juntos têm milhões de anos de sabedoria. Muitíssimo mais que os iluminados que pretensamente governam o país.

Isso foi o que escrevi a 8 de março.

Depois do vírus, muitos escreveram textos idênticos nos media, ou publicaram vídeos no Facebook e outras redes.

A 16 de março escrevi: este Estado está caduco, completamente ultrapassado pela cidadania que está muito bem e muito melhor informada. Tal como os vendedores de automóveis, que ainda não perceberam que os clientes sabem muito mais de carros do que eles, a administração pública e a maior parte dos políticos não perceberam o empowerment individual que resulta da Internet, e com ele uma ainda maior sensação de frustração quando confrontados por um Estado ignorante, uma governação incompetente e selfserving (perdoem os anglicismos mas estão a jeito).

Não sabem que as redes sociais estão cheias de artigos de jornais e revistas científicas sobre o coronavírus? Não sabem que para além do grande esforço e mérito dos jornalistas e media portugueses, “New York Times”, “New Yorker”, “El País”, “The Guardian”, etc. têm cobertura gratuita da pandemia e que tudo isso está viral na net em Portugal?

A noção da República como uma comunidade de indivíduos é hoje muito mais forte. A representação está a passar dos eleitos para os eleitores por efeito da Internet e da incompetência, desleixo, egoísmo e ignorância de muitos políticos. E isso pode ser muito perigoso para a democracia.

A maior parte dos funcionários públicos não terá responsabilidade no estado calamitoso a que chegámos e que o vírus desvendou com ainda maior clareza. Não têm liderança, organização, governança moderna, decidida, exemplar.

Muitos políticos parecem umas baratas tontas. Agora temos aquelas conferências de imprensa por duas senhoras patéticas que não sabem onde se enfiar e que parece estão a falar para crianças. Finalmente, temos o Presidente da República a fazer uma comunicação via Internet de qualidade técnica e de apresentação desastrosa.

Senhor Presidente, já que ninguém lhe diz, digo-lhe eu: não balance na cadeira, dá uma imagem de instabilidade, precisamente o contrário do que deve fazer.  Não use o Skype. O som estava horrível e na sua longa experiência na rádio e na TV sabe melhor que ninguém que o som é crucial. Por favor, não descure a forma, lembre-se dos seus comentários antigamente. A forma destruiu o bom conteúdo. Use outra plataforma de reconhecida qualidade. Peça aos seus netos para lhe instalarem no laptop que tem casa. Para que a sua voz nos chegue forte e segura.