Um dos riscos maiores que os governos correm na sua ação diária é cometerem erros de avaliação dos seus comportamentos ou reagirem intempestivamente quando confrontados com um erro, uma atitude ou uma política. Normalmente, tal acontece por questões que reputam de menores ou das quais até podem não ter conhecimento.

Claro que estas situações não inibem um membro do Governo de responsabilidades, por muito que tentem minimizar ou desvalorizar as situações negativas. Um político experiente e sábio percebe de imediato as situações com impacto político e encontra uma forma de desviar as atenções.

As tarefas de fiscalização política cabem em primeira linha à oposição, embora esta nem sempre se demonstre capaz para tal exercício. Tem sido a comunicação social que tem exercido a função de denúncia de situações críticas, mantendo um acompanhamento adequado que aprofunda e leva ao esclarecimento destas situações.

Este Governo manteve sempre uma atenção cuidadosa relativa aos erros cometidos. E em cada ocasião soube desviar atenções, criar cortinas de fumo e montar cenários alternativos perante situações adversas. Embora nem sempre suficientemente eficaz ou atempadamente interveniente, o Governo de António Costa soube estar atento e face a notícias negativas ou críticas rapidamente reagiu. Nem sempre bem e até de forma dura ou arrogante. Mesmo o primeiro-ministro que em casos extremos e confrontado com situações graves reagiu excessivamente.

Os casos que motivaram inquéritos parlamentares foram evidências de gestão inadequada, quer em relação ao caso de Tancos, quer em relação à forma atabalhoada como encarou as respostas aos incêndios. Em qualquer destes casos, tal custaria dois ministros ao Governo PS. Mas mais se diria sobre a forma como o primeiro-ministro lida com a crítica da oposição no Parlamento, sempre desvalorizando os protagonistas e não as políticas.

Assim se comportou excessivamente com Pedro Passos Coelho, Assunção Cristas, Luís Montenegro ou Fernando Negrão e até com Catarina Martins, neste caso concreto quando se previa que caísse o acordo sobre a lei de bases da Saúde. Assim se comportou com presidentes de câmara quando o questionavam sobre políticas que consideravam negativas.

Mas, em qualquer caso, quando se denotava um crescendo de críticas rapidamente o Governo alterava o azimute para travar a crítica e mudar a atitude. O caso recente do ministro da Administração Interna é bem sintomático. Num dia a apreciar o material das boinas da GNR, no outro a ordenar um inquérito sobre o famigerado caso das golas inflamáveis, o relevante foi desviar a atenção do erro e de uma situação de eventual benefício para uma conduta de um Governo impoluto.

Esta mudança repentina de atitude, para mais reforçada e necessária em tempo de eleições, só pode ter ocorrido porque o polícia do Governo assim o determinou. Seguramente que o Governo tem alguém que monitoriza os comportamentos que podem afetar a sua imagem e manda retificar atitudes, sensibilidades e reações excessivas, criar alternativas ou barreiras comunicacionais.

Ao contrário do que se afirma, não se controla a comunicação social, induz-se. Perante a negativa cria-se uma nova afirmativa. Este Governo comete muitos erros e graves. Mas mantém permanente atenção e corrige as situações negativas de imediato. Como é patente no caso das “golas”. Alguém foi já degolado. Mas não o Governo. Por intervenção decisiva do seu “polícia” interno. Com erros assim, este Governo não merece sequer uma maioria, quanto mais absoluta.