Disse António Costa antes das legislativas que “um candidato a primeiro-ministro sem experiência governativa é um risco”, atacando assim a virgindade de Rui Rio nessas tarefas.
Por nunca ter gostado de Pedro Passos Coelho, e muito menos honrado o legado de um líder que granjeia respeito e simpatia quase unânime no PSD, nunca Rio conseguiu refutar o aforismo do líder do PS e estancá-lo apenas com uma frase possível: “Passos Coelho também não tinha experiência governativa e foi ele que evitou a bancarrota dos governos Sócrates”. Era fácil.
Luís Montenegro obteve uma enorme vitória no sábado (igual à dimensão da derrota de Jorge Moreira da Silva) e também não tem a tal “experiência governativa”. Só que agora os sociais-democratas não estavam a escolher um candidato a primeiro-ministro nem uma visão para Portugal, mas sim o melhor homem para fazer oposição a um governo de maioria absoluta.
Foi esse o segredo da sua vitória, sobretudo com o apelo da apagada alma do velho PPD, entendendo, e bem, que esta nova liderança necessita de um fulgor popular e abrangente que consiga secar o crescimento do Chega e da Iniciativa Liberal, para depois congregar o espaço do centro-direita.
É uma tarefa muito árdua, um caminho de pedras, mas é com elas que se constrói um castelo, como dizia Confúcio. Ser líder da oposição é uma profissão difícil e não podemos esquecer que a primeira maioria absoluta socialista, em 2005, depois trucidou três líderes: Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite.
Logo, para lá do entusiasmo que não é grande no partido (e menor ainda será no país) e de um putativo Brutus que num momento mais oportuno pode afiar um punhal e aparecer oriundo de Lisboa, temos uma herança Rui Rio que é a catástrofe de um partido em apodrecimento.
O epitáfio do líder que só ganhou eleições internas é fácil de fazer e um artigo na revista do “Expresso” dizia tudo (e que eu já conhecia do passado).
Um homem pequeno, de círculo curto e, mais grave, vistas curtas. Que não gosta de Lisboa e só cá estava entre terça e quinta porque depois tinha de voltar para o calor da sua mantinha nas pernas no Porto. Que almoçava sempre com José Silvano e Florbela Guedes (quase os únicos em quem confiava) no bar do “sr. Cândido” porque o prato era baratinho, sem alargar a base de contactos, sem falar com empresários ou jornalistas porque os via sempre no labirinto da sua pequenez como Adamastores.
E tudo se resume nisto, escrito pela jornalista Rita Dinis: “a revolução informática que Rio imprimiu na sede, não só ao nível da recuperação de militantes activos, como ao nível da informatização e centralização da contabilidade é vista pelos seus mais próximos como o seu principal sucesso nos mais de quatro anos que esteve à frente do PSD”.
Portanto, para os seus fiéis, o zénite da sua liderança é isto. E assim se prova o erro total: o PSD precisava de um líder político e não de um contabilista. É o ponto final de Rui Rio. Muito pequenino, mas ele sempre foi muito pequenino.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.